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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sexta-feira, 2 de março de 2018

PORQUE O ANO COMEÇA MESMO SÓ EM MARÇO?


Você já deve ter feito esta pergunta ou alguém em algum lugar usou esta expressão, ou ainda mesmo você deve ter esse sentimento todos os anos depois que ouve a música da Globeleza ir embora. Poucos entretanto sabem que o motivo desta percepção real para o mundo ocidental tem um fundamento histórico, e é culpa dos nossos vaidosos imperadores romanos. Digo vaidosos sim, e explico: Nunca imaginava que até o nosso calendário poderia ter sido afetado pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se apegam tanto à "glória do mundo".

Até o século 8º a.C., o ano do mundo romano da Antiguidade, do qual herdamos essas medidas, tinha apenas dez meses e se iniciava em 1º de março, "martius", do deus “Marte”, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês da primavera, um evento lógico para se iniciar um novo ano, bem como para começar a temporada das campanhas militares. Depois vinham "aprilis", "maius", "iunius" e, a partir daí, foram usados numerais (de cinco a dez) para denominar os meses seguintes ("quinctilis", "sextilis", "september", "october", "november" e "december").

No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois meses: "januarius", em honra ao deus 'jano', divindade bifronte da mitologia greco-romana que olhava para frente e para trás, deus dos portais e das transições, dos inícios e fins. E o mês "februarius", inspirado em Fébruo, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca, por isto a escolha deste mês para as festas carnais.

A bagunça inicia por aqui:  No século 1º a.C. o ditador Júlio César, devoto fervoroso do deus Jano, e em sua homenagem, fez a reordenação dos meses, passando Janeiro para o primeiro mês do ano, e consequentemente fevereiro para o segundo, mantendo a sequencia dos demais meses, o que confunde até hoje muitos, que não entendem por que chamamos de sete/mbro ao mês que numeramos com nove e de dez/embro àquele que é o número doze.

E os imperadores não pararam por aí. Como Júlio César, nascido no mês "quinctilis", foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seu seguidor, decidiu homenagear Julio César e trocou o nome do antigo quinto mês para "julius", mantendo os 31 dias que esse comportava. Porém a luta pelo poder veio à tona, e, a pretexto de proteger a honra familiar ofendida (pois Marco Antônio abandonara o antes conveniente casamento com Otávia, irmã de Otávio, e desposara Cleópatra, firmando-se como senhor do mundo oriental), a guerra foi declarada. Vencido, Marco Antônio cometeu suicídio.

Continuando a saga de alterações no calendário e no império, com a destituição de Lépido e, depois, a derrota de Marco Antônio, o outrora Otávio (também chamado Otaviano), em janeiro de 31 a.C., recebeu do Senado o título de Augusto e, mais adiante, foi sagrado o primeiro imperador de Roma e, por fim Grande Pontífice. O imperador entendeu não ser adequado para alguém "do porte dele" não ser também homenageado com um nome no ano e não teve dúvidas em alterar o sexto mês, antigo "sextilis", para "augustus", criando o mês de “Agosto”. Mas isso não foi o bastante: Seguindo a lógica de alternância dos meses com 30 e 31 dias, exceto fevereiro que originariamente possuía 29 dias e 30 como ano bissexto, até então. Ele, “Augustus”, sucedia a "julius" (grande, nos seus 31 dias) e, desse modo, tinha duração de 30 dias. Sem problema, a lógica foi quebrada mais uma vez. Ordenou o imperador que "seu" mês não fosse inferiorizado e passasse a ter também 31 dias, subtraindo um dia do mês que homenageava “frebruos”, por isso os 28 dias de fevereiro.

Hoje quase ninguém mais liga julho é um mês em homenagem a Júlio César, que agosto vem de um ex-imperador Augusto e, menos ainda, que ambos são os únicos consecutivos com o mesmo número de dias em memória do poderoso imperador. E como diriam os sábios daquela época... "Sic transit gloria mundi!", ou seja, a glória do mundo é passageira. Poder e glória, quando exercidos por personagens com empáfia, soberba e arrogância, seus fatos na prática, são passageiros. O que eternizam os heróis são suas ações carregadas de virtudes.


Por André Topanotti – 02/03/2018
Texto inspirado nas crônicas de Mário Sergio Cortella em Qual é a Tua Obra.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A RECEITA BÁSICA DA ÉTICA NÃO MUDA

O texto a seguir é uma transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN do dia 04/01/2018, sobre ética e compliance. O áudio original está disponível no site da CBN:


"Se há empresas que são arapucas para as economias do povo, que sejam desmascaradas e compelidas a cessar a exploração criminosa a que se entregaram os seus incorporadores, cujo lugar é na cadeia, e as empresas honestas ficarão a salvo da temerosa desconfiança pública."

Essa frase parece retratar fatos amplamente conhecidos de todos nós, no Brasil dos tempos atuais. Mas ela é muito, muito mais antiga: foi publicada nos jornais brasileiros há 75 anos, em março de 1943. Três gerações se passaram desde então, e muita coisa aconteceu.

Na década de 1940, o substantivo "ética" saiu das rodas eruditas e caiu no gosto popular. Em breve tempo, já se falava em ética jornalística, ética esportiva, ética nos negócios e, claro, ética na política.

Muitas leis foram aprovadas, órgãos regulatórios foram criados e milhares de funcionários públicos foram contratados para fiscalizar melhor as empresas. O mais recente membro dessa longa história de combate às fraudes e prevaricações, recebeu um nome inglês: COMPLIANCE.

Em miúdos, é um atestado de idoneidade emitido por uma empresa, com o objetivo de assegurar a seus parceiros e empregados, que irá respeitar a legislação e sempre agir dentro de princípios éticos.

A adoção de um sistema de compliance está se tornando cada vez mais comum em empresas. E é um grande passo para a prevalência da ética sobre as artimanhas. Mas ainda não é uma garantia definitiva de retidão.

Além do manifesto desejo de cumprir com as obrigações legais e morais, é necessário que o braço da lei puna exemplarmente a quem não cumpre.

Ou seja, o tempo passou e os ingredientes foram sendo incrementados, mas a receita básica da ética continua sendo a mesma que sempre foi.



Por Max Gehringer, para CBN, 04/01/2018.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

ACADÊMICOS DA UNESC VISITAM A MALWEE

No último dia 09/11, os alunos dos cursos de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, Administração e Comércio Exterior visitaram à área de Recursos Humanos da Malwee. A visita foi organizada pelos Profs. Msc André Paes Topanotti e Cristiane Dias. Na oportunidade os acadêmicos foram recepcionados pela Sra. Gizele Aparecida Ronczka Coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento do Grupo Malwee.

Antes da visita os alunos tiveram a oportunidade de conhecer o Parque Malwee, e no período da tarde, a palestra com visitação à administração central e ao parque fabril da Malwee. Foi abordado aspectos como a missão da área de gestão de pessoas, suas principais estratégias nas atividades de recrutamento & seleção, benefícios & remuneração, e treinamento & desenvolvimento de pessoas. Também tivemos a grata satisfação de conhecer e ouvir Wandér Weeger um dos ex-presidentes da empresa e neto do fundador da Malwee, eda 3a Geração que comandou esta que é uma das maiores indústrias têxteis do país, hoje dirigida com sucesso pela 4a geração da família, um fato raro no âmbito da gestão.

Para a Profª Cris Dias, "... para se saber qual o caminho entre a teoria e a realidade, só é possível realizando para saber. A realização desta visita pode proporcionar esta vivencia especial. "

Para acadêmica Izabel Guidi, do Curso de Tecnologia em Gestão de RH “nesta viagem pudemos perceber que, se tivermos persistência, criatividade, bondade e bom senso, podemos chegar aonde quisemos, principalmente através dos depoimentos dados pelo Sr. Weeger.” Para a acadêmica Veronica Mazon ... “a preocupação com a ergonomia dos postos de trabalho, através de um significativo investimento em automatização do processo produtivo, e a consciência de sustentabilidade, através de uma grande estação de tratamento de efluentes foram os pontos mais relevantes apresentados pela empresa”.

Para o Profº André Topanotti "foi muito gratificante ver o comprometimento e interesse de cada aluno(a) ao relacionar a teoria da sala de aula com a prática demonstrada na visita pela equipe de RH da Malwee. Além de promover o conhecimento para os nossos acadêmicos, proporcionou a integração entre os cursos, validando muitos dos conceitos trabalhados por nós professores em sala de aula."



Por André Topanotti - 10/11/2017.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ACADÊMICOS REALIZAM AÇÃO SOCIAL NO GAPAC

Na tarde desta quinta feira (12/10/2017), os alunos da 4ª fase de Administração com Habilitação em Comércio Exterior (COMEX) e da 2ª fase de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos da UNESC realizaram ação social promovendo o Dia das Crianças para as crianças carentes do GAPAC (Grupo de Apoio aos Portadores de AIDS de Criciúma). A ação foi organizada pelo Prof. André Topanotti como parte das atividades de extensão da disciplina de Administração de Recursos Humanos. No desenvolvimento da matéria, os alunos foram encorajados pelo professor a arrecadarem brinquedos para as crianças e cestas básicas para suas famílias. O objetivo da ação e da visita foi vivenciar a prática de ações de cidadania, voluntariado e responsabilidade social, no âmbito das organizações.


Na oportunidade os alunos foram recepcionados pela Sra. Anne Schimidt, Coordenadora do GAPAC Criciúma e pelas famílias das crianças beneficiadas pela ação. Com a mobilização dos alunos foram arrecadados em dinheiro R$ 718,00 (doações da Bem Produções, Bos Fomento e dos alunos das turmas). Além das doações em dinheiro os alunos conseguiram o molho de cachorro com Prof Volmar Madeira (Coordenador do Curso TGRH), 150 Pães do Mercado Marcon, 10 cestas básicas doadas pela Cerâmica Elizabeth e mais 10 cestas básicas de alunos. Ao todo foram 25 famílias atendidas e 53 crianças presenteadas. “Distribuímos presentes e cada aluno de RH apadrinhou uma criança. Foi um o momento para destacar que todos somos iguais. Nosso objetivo, promovendo essas ações, é fazer com que os frequentadores do GAPAC percebam que podem participar da comunidade, desenvolvendo também a importância do acolhimento e da vivência em família”, explica a assistente social do grupo, Ane Schmidt. Com os valores arrecadados foi possível realizar a locação de brinquedos como cama elástica, piscina de bolinhas e sonorização, além da compra de salgadinhos, balas e guloseimas para as crianças.

Para o acadêmico Fernando Luiz Estevam "foi um dia muito especial para nós acadêmicos de comércio exterior da Unesc. Tivemos a oportunidade de compartilhar sorrisos e esperança com as crianças da GAPAC e ser recompensados com a alegria demonstrada nos olhos delas." A aluna Alice Alano Cologni também resume o sentimento de seus colegas:  "Provocar a alegria e entusiasmo das crianças nesta data especial foi muito gratificante, pois percebi a gratidão e simplicidade de cada família presente. Poder proporcionar a felicidade em forma de pequenas lembranças, foi um gesto desenvolvido para praticar o lado humano e conscientização das pessoas.


"Nesta ação, o engajamento dos acadêmicos e o espírito de liderança e voluntariado cresceu a cada dia em que nos preparávamos para a realização da ação. É fundamental que nossos futuros administradores e gestores levem para dentro das organizações um modelo de gestão que humanize as relações entre as pessoas. Experiências como esta nos fazem refletir sobre nossos propósitos e sobre a contribuição que desejamos dar à sociedade. É gratificante perceber que estes acadêmicos perceberam esta necessidade e engajaram-se de coração nesta iniciativa. As duas turmas estão de parabéns." (Profº André Topanotti).


Por André P. Topanotti - Criciúma, 13/10/2017.

sábado, 22 de outubro de 2016

ACADÊMICOS DE TGRH VISITAM HAVAN EM BRUSQUE

No último dia 13/10, os alunos da 2ª fase de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos visitaram à área de Recursos Humanos da HAVAN - Loja de Departamentos. A visita foi organizada pelo Prof. Msc André Paes Topanotti, e contou também com a participação da Profª Vera Lucia Crispim e alunos da 1ª e 4ª fase em Gestão de Recursos Humanos. Na oportunidade os alunos foram recepcionados pelo Sr. Aurélio Paduano, Gerente Corporativo de RH, Sra. Goreti Maestri - Coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento, Sr. Jussemar Hasquel - Coordenador de Setor Pessoal, e os Srs Fábio Cunha e Priscila Macedo da equipe de treinamento virtual.

Foi uma tarde de palestra e visitação à administração central, que apresentou-se aos alunos a história do empreendimento, sua visão, missão e valores. Também foi abordado aspectos como a missão da área de gestão de pessoas, suas principais estratégias nas atividades de recrutamento & seleção, benefícios & remuneração, e treinamento & desenvolvimento de pessoas.

Os programas de formação e desenvolvimento de ​líderes e como a área de Gestão de Pessoas auxilia e conduz a gestão de treinamento de equipes na HAVAN e as ferramentas ​organizacionais que promovem e garantem a "memória organizacional", no tocante a gestão da aprendizagem e do conhecimento também foram abordadas pelo Sr. Aurélio e Sra Goreti. Segundo Goreti, "um dos diferenciais das equipes da HAVAN é a oportunidade, e o apoio que damos na promoção e na formação de nossos gerentes de lojas. Como tivemos um crescimento muito grande recentemente, era indispensável que formássemos novos gestores. Isto motivou muito nossas equipes internas, e proporcionou grandes oportunidades de crescimento."

Para a Profª Vera Lúcia "foi um momento muito especial: Promoveu o conhecimento para os nossos acadêmicos, proporcionou a integração entre diversas fazes do curso, além de validar muitos dos conceitos trabalhados por nós professores em sala de aula."

Para acadêmica Marília Studizinski Figueredo da 4ª Fase do Curso de Tecnologia em Gestão de RH "o centro administrativo da HAVAN é um 'sonho de consumo' para qualquer profissional. Uma estrutura fantástica e muito organizada." Já para o acadêmico Antônio Oliveira da 2ª Fase do Curso de Tecnologia em Gestão de RH "a HAVAN já se mostrou ser uma empresa diferenciada pela recepção que nos proporcionou, e a atenção que dispendeu a todos nós, nos acompanhando numa tarde toda , compartilhando seus conhecimentos conosco." Para o Profº André Topanotti "foi muito gratificante ver o comprometimento e interesse de cada aluno(a) ao relacionar a teoria da sala de aula com a prática demonstrada na visita pela equipe de RH da HAVAN."

Fonte: http://www.unesc.net/portal/blog/ver/62/36374

quarta-feira, 8 de junho de 2016

QUANDO O MESTRADO "ESPANTA" UM EMPREGO

De um ouvinte para o colunista da CBN, Max Gehringer: "Ouvi você dizer em vários comentários que estudar é muito importante para a carreira. Mas recentemente você respondeu a um ouvinte desempregado que o fato dele ter um mestrado pode estar assustando os recrutadores. Não há um paradoxo nisso?”.

Sim, há. Mas vamos separar as coisas.

Nós não estudamos só para conseguir um emprego. O estudo nos dará conhecimentos para desempenhar bem as tarefas técnicas que nos forem confiadas. Quanto mais estudarmos, mais conhecimentos iremos adquirir e maiores serão as nossas possibilidades de continuar progredindo em uma empresa.

Um mestrado, nesse caso, é uma ferramenta adicional para quem está trabalhando. Mas não é uma chave que abre qualquer porta em um processo de seleção.

Foi isso que o ouvinte que me escreveu manifestou. E eu respondi sugerindo que ele poderia fazer um teste, eliminando o mestrado do currículo para ver se isso teria algum efeito positivo em entrevistas.

Se não tivesse, a questão não seria o mestrado, mas alguns outros predicados que as empresas possam estar exigindo e que faltassem ao ouvinte. Ao retirar o mestrado do currículo e ver que a situação continuava igual, o ouvinte iria procurar descobrir os outros motivos que realmente estavam dificultando a consecução de um novo emprego.


Ao acertar o foco, ele encontraria o emprego, e aí sim, o mestrado teria muita significância.

Por Max Gehringer para CBN, 02/06/2012.
Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2016/06/nao-estudamos-so-para-conseguir-um.html

domingo, 29 de maio de 2016

CONTRA OS COMISSÁRIOS DA IGNORÂNCIA

O que é conservadorismo? Tratar o pensamento político conservador (“liberal-conservative”) como boçalidade da classe média é filosofia de gente que tem medo de debater ideias e gosta de séquitos babões, e não de alunos. Proponho a leitura de “Conservative Reader” (uma antologia excelente de textos clássicos), organizada pelo filósofo Russel Kirk. Segundo Kirk, o termo começou a ser usado na França pós-revolucionária. Edmund Burke, autor de “Reflexões sobre a Revolução na França” (ed. UnB, esgotado), no século 18, pai da tradição conservadora, nunca usou o termo. Tampouco outros três pensadores, também ancestrais da tradição, os escoceses David Hume e Adam Smith, ambos do século 18, e o francês Alexis de Tocqueville, do século 19. Sobre este, vale elogiar o lançamento pela Record de sua biografia, “Alexis de Tocqueville: O Profeta da Democracia”, de Hugh Brogan. 

Ainda que correta a relação com a Revolução Francesa, a tradição “liberal-conservative” não é apenas reativa. Adam Smith, autor do colossal “Riqueza das Nações”, fundou a ideia de “free market society”, central na posição “liberal-conservative”. Não existe liberdade individual e política sem liberdade de mercado na experiência histórica material. A historiadora conservadora Gertrude Himmelfarb, no seu essencial “Os Caminhos para a Modernidade” (ed. É Realizações), dá outra descrição para a gênese da oposição “conservador x progressista” na modernidade. Enquanto os britânicos se preocupavam em pensar uma “sociologia das virtudes” e os americanos, uma “política da liberdade”, inaugurando a moderna ciência política de fato, os franceses deliravam com uma razão descolada da realidade e que pretendia “refazer” o mundo como ela achava que devia ser e, com isso, fundaram a falsa ciência política, a da esquerda. Segundo Himmelfarb, uma “ideologia da razão”. O pensamento conservador se caracteriza pela dúvida cética com relação às engenharias político-sociais herdeiras de Jean-Jacques Rousseau (a “ideologia da razão”). Marx nada mais é do que o rebento mais famoso desta herança que costuma “amar a humanidade, mas detestar seu semelhante” (Burke). O resultado prático desse “amor abstrato” é a maior engenharia de morte que o mundo conheceu: as revoluções marxistas que ainda são levadas a sério por nossos comissários da ignorância que discutem conservadorismo na cozinha de suas casas para sua própria torcida.

Outro traço desta tradição é criar “teorias de gabinete” (Burke), que se caracterizam pelo seguinte: nos termos de David Hume (“Investigações sobre o Entendimento Humano e sobre os Princípios da Moral”, ed. Unesp), o racionalismo político é idêntico ao fanatismo calvinista, e nesta posição a razão política delira se fingindo de redentora do mundo. Mundo este que na realidade abomina na sua forma concreta. A dúvida conservadora é filha da mais pura tradição empirista britânica, ao passo que os comissários da ignorância são filhos dos delírios de Rousseau e de seus fanáticos. No século 20, proponho a leitura de I. Berlin e M. Oakeshott. No primeiro, “Estudos sobre a Humanidade” (Companhia das Letras), a liberdade negativa, gerada a partir do movimento autônomo das pessoas, é a única verdadeira. A outra, a liberdade positiva (abstrata), decretada por tecnocratas do governo, só destrói a liberdade concreta. Em Oakeshott, “Rationalism in Politics” (racionalismo na política), os conceitos de Hume de hábito e afeto voltam à tona como matrizes de política e moral, contra delírios violentos dos fanáticos da razão.

No 21, Thomas Sowell (contra os que dizem que conservadores americanos são sempre brancos babões), “Os Intelectuais e a Sociedade” (É Realizações), uma brilhante descrição do que são os comissários da ignorância operando na vida intelectual pública. Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quando vive numa sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido “liberal-conservative” no Brasil, só esquerda fanática e corruptos de esquerda e de direita.


Por Luiz Felipe Pondé
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/contra-os-comissarios-da-ignorancia/

sábado, 28 de maio de 2016

ALUNOS REALIZAM AÇÃO SOCIAL

Na tarde do último domingo dia 22/05, os alunos da 4ª fase de Administração com Habilitação e Comércio Exterior (COMEX) realizaram ação social com visita ao Asilo São Vicente de Paulo. A ação foi organizada pelo Prof. André Paes Topanotti como parte das atividades da matéria de Administração de Recursos Humanos. No desenvolvimento da disciplina, os alunos foram encorajados pelo professor a arrecadarem fraldas geriátricas para posterior doação ao Asilo. O objetivo da ação e da visita foi vivenciar a prática de ações de cidadania, voluntariado e responsabilidade social, no âmbito das organizações.

Na oportunidade os alunos foram recepcionados pela Sra. Michele, Assistente Administrativa do ASVP, que mostrou aos alunos as dependências do asilo e toda sua infraestrutura. Durante o período de visita os internos receberam o carinho e a atenção dos alunos, que ficaram impressionados com a alegria e as histórias contadas pelos idosos e idosas. Até música ao vivo com violão foi proporcionado por alguns alunos e alunas.

Segundo alguns acadêmicos "foi muito importante conhecer de perto a estrutura deste que é um exemplo de instituição filantrópica da nossa cidade. Moramos aqui, sabemos que ele realiza um trabalho fantástico, mas não conhecemos sua realidade. Não tínhamos a noção de fato do tamanho do trabalho realizado."

A Aluna Ana Paula Xavier resumiu bem o sentimento da turma: "Quando formos idosos, nada mais seremos do que pequenas crianças num corpo frágil cheio de sabedoria e experiencia.

"A cada vez que visito o Asilo São Vicente me emociono. Hoje muito mais com a reação dos alunos ao vivenciarem o contato com os idosos, do que propriamente com os internos. É fundamental que nossos futuros administradores e gestores levem para dentro das organizações um modelo de gestão que humanize as relações entre as pessoas. Experiências como esta nos fazem refletir sobre nossos propósitos e sobre a contribuição que desejamos dar à sociedade. É gratificante perceber que os acadêmicos percebem esta necessidade e engajam-se de coração em iniciativas como esta. A turma da 4a fase de COMEX está de parabéns." (Profº André Topanotti).


Por André P. Topanotti - Criciúma, 28/05/2016.

VISITA TÉCNICA À JB ENTRETENIMENTOS

Na última sexta feira, dia 13/05, os alunos da 3ª fase de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos visitaram à área de Desenvolvimento Humano e Organizacional da JB Entreternimentos S/A, mantenedora do Parque Beto Carreiro World. A visita foi organizada pelo Prof. Msc André Paes Topanotti, e contou com a participação de alunos da Pós Graduação em Gestão de Pessoas - Foco em Coaching.

Na oportunidade os alunos foram recepcionados pelo Sr. Carlos Roberto Farias Junior, responsável pelas ações da área de Desenvolvimento Humano e Organizacional do parque. Foi uma manhã de palestras que apresentaram aos alunos a história do empreendimento, sua visão, missão e valores. Também foi abordado aspectos como a 
missão da área 
de gestão de pessoas, suas principais estratégias nas atividades de recrutamento & seleção, benefícios & remuneração, e treinamento & desenvolvimento de pessoas. Os programas de formação e desenvolvimento de ​líderes e como a área de Gestão de Pessoas auxilia e conduz a gestão da mudança na organização e as ferramentas ​organizacionais que promovem e garantem a "memória organizacional", no tocante a gestão da aprendizagem e do conhecimento também foram abordadas pelo Sr. Carlos.

Segundo Carlos, "um dos sucessos do Parque Beto Carrero é que nós vivemos este lugar com muita intensidade. Muitos de nós que atuam na área administrativa atuamos como artistas também. Eu mesmo iniciei como funcionário temporário à mais de 8 anos, fui efetivado e comecei trabalhando em alguns shows. Só depois fui promovido à área de DHO. Hoje sempre que posso participo de alguns shows e treino os novos funcionários inserindo eles em atuações nas nossas programações artísticas."

Na parte da tarde os alunos puderam desfrutar da estrutura do Parque e passaram momentos de integração emocionantes. "Foi muito bom ter participado da palestra pela manhã, e no período da tarde poder verificar que tudo aquilo que eles falam, realmente acontece na prática", declarou a aluna Julia Silvano Pereira da 3ª Fase do Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos.

"Como educador, foi gratificante ver o empenho, dedicação e a emoção nos olhos de cada aluna(o) ao perceber como eles rapidamente olharam o parque pelo prisma de um gestor de pessoas em um negócio diferenciado como o de entretenimento"  declarou Profº André Topanotti.


Por André P. Topanotti - Criciúma, 28/05/2016.

sexta-feira, 25 de março de 2016

A SEITA DA JARARACA

O que estará pensando o PT após tamanha manifestação contra Lula, Dilma e associados, dia 13/03  em todo o país?

Não temos bola de cristal, mas não é difícil ter alguma ideia do que estará passando na cabeça do PT. O PT é uma seita. Sempre foi. E o traço essencial de toda seita é o ódio. Esta seita colheu seu fanático séquito de seguidores entre grande parte da inteligência (tola?) do país, arregimentando professores, jornalistas, intelectuais, cientistas e estudantes, além, é claro, do pelotão de choque dos militantes profissionais.

Eu apostaria que o PT não está nem aí para o que aconteceu no Brasil ontem. Não que os petistas não estejam preocupados com a possível perda do PMDB na sua base, ou com o risco crescente do impeachment, ou com o sangramento e paralisia do governo. Isto é um pesadelo mesmo. Devem estar mijando nas calças. Devem acordar suando, com o gosto da comida de cadeia na boca, ou com a estranha sensação de que foram desmascarados na sua profunda vocação para o engodo.

Refiro-me a outra coisa. Há dez dias, após a condução coercitiva para o depoimento no aeroporto de Congonhas, o ex-presidente Lula fez um discurso raivoso contra todo este processo que reúne procedimentos jurídicos (Lava Jato como grande exemplo) e o nojo que seu partido parece causar na maior parte da população. Lula referiu-se a si mesmo como uma jararaca. Acho que deveríamos levar a sério sua metáfora.

O PT hoje continua sendo uma seita, mas não mais a seita da estrela da esperança (que enganou muitos e continua enganando alguns), mas a seita da jararaca. E seu veneno ainda pode ser mortal, justamente porque ele não está nem aí para a população. A essência do veneno da seita da jararaca (o PT) é justamente sua indiferença para com o Brasil e sua população comum, contrariamente ao discurso populista com o qual enfeitiçou o país por décadas.

O Partido dos Trabalhadores não tem nenhuma elegância diante da derrota. E isso nada tem a ver com a fato de que a maior parte dos petistas seja arrivista social. A deselegância é um comportamento que atravessa todas as classes sociais de forma democrática.  Mesmo se tiver que estrangular o pais, levando-nos à miséria absoluta, continuará a tentar mobilizar sua seita de seguidores da jararaca para impedir o que grande parte da população demonstrou ontem nas ruas.

A soberania popular (base da democracia), em grande parte, demonstrou ontem não mais reconhecer na presidente Dilma alguém que mereça confiança ética, política ou técnica. Além disso, a soberania popular escolheu Sérgio Moro em detrimento da jararaca. Mas, isso pouco importa à seita da jararaca.

Eis seu veneno, na sua forma atual. Este veneno, na sua forma clássica, foi a corrupção sistemática que montou no país e seu atraso mental em termos econômicos que pode levar o Brasil ao tempo da economia de subsistência. Há quem diga que grama que socialista pisou leva muito tempo para florescer de novo. Na sua forma atual, este veneno será sua tentativa, mesmo que a custos gigantescos para o país, de se manter no poder. E para o sofrimento do povo, ele oferecerá o sorriso sinistro da jararaca.

Viveremos dias fascinantes de agora em diante. Preparem seus corações para turbulências. As alma mais frágeis poderão ter medo, mas é em momento como esses que virtudes como coragem e disciplina são necessárias. Os covardes, provavelmente, ficarão paralisados. As jararaquinhas serão soltas pelas ruas, cuspindo seu discurso de que são vítimas das elites. Difícil imaginar que um boy das empreiteiras represente o grosso da população brasileira que está vendo sua vida ir pelo ralo.

Mas, vale lembrar que grande parte dessas jararaquinhas habita o pensamento público, apesar de que estão chocadas com o fato de que nem todo mundo inteligente teme ou pertence à seita delas. Penso mesmo, às vezes, que essas jararacas não conseguem entender que grande parte do país não as vê mais como santinhas redentoras. O PT é coisa do passado. Restará apenas as jararacas loucas correndo pelas ruas.

Texto de Luiz Felipe Pondé publicado na Folha de SP

domingo, 20 de setembro de 2015

PODE EXISTIR REAJUSTE SALARIAL APÓS REDUÇÕES?


Texto transcrito do comentário de Max Gehringer para CBN. Ouvinte envia a seguinte pergunta ao programa: "Éramos cinco funcionários em meu setor, mas a empresa reduziu para três. Isso já faz dois meses e estamos pensando em falar com nosso superior sobre um possível reajuste, já que agora somos três fazendo o trabalho de cinco. Você concorda que temos motivos justos para pleitear esse reajuste?"

Sim, eu concordo que quem trabalha mais, merece ganhar mais. Porém, permita-me esclarecer a diferença entre o que é justo e o que é legal.

Ao assinar um contrato de trabalho, o empregado se coloca à disposição da empresa oito horas por dia. Como o contrato estabelece o tempo e a remuneração, mas não o volume de trabalho, entende-se que o funcionário executará todas as tarefas possíveis de serem feitas nessas oito horas.

Ao conversar com o seu superior, vocês três poderão ouvir dele os seguintes argumentos:

Primeiro: havia certa ociosidade quando vocês eram cinco e agora ela foi eliminada. 

Segundo: o volume de trabalho diminuiu em função da crise e o quadro de pessoal foi ajustado. 

Terceiro: vocês, de fato, estão tendo que trabalhar mais, mas a situação difícil não permite reajustes.

Ou seja, no fim das contas, a resposta será: não!

Mesmo assim, eu sugiro que vocês falem com o seu superior e apresentem os seus argumentos. Se ele pender para o lado da lei, ele estará certo. Agora, se ele for compreensivo e olhar também para o lado do que é justo, pode ser que vocês recebam algum reajuste. Logo, vocês não perdem nada ao falar com ele. A não ser, talvez, um pouco de tempo, que agora ficou mais escasso.


Max Gehringer, para CBN.
Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2015/09/podemos-pedir-um-reajuste-apos-demissao.html

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

UM CONVITE À DOR DO APRENDIZADO

Qualquer pessoa que tenha concluído um pensamento, por menor que seja, sabe que é doloroso. Trata-se de trabalho duro — na verdade, é a coisa mais difícil que os seres humanos são chamados a fazer. É fatigante, não revigorante. Se for permitido seguir o caminho de menor esforço, ninguém, jamais, pensará.

Uma das razões para que a educação oferecida pelas nossas escolas seja tão volumosa e insípida é que, geralmente, o povo americano — os pais ainda mais que os professores — deseja que a infância seja uma época livre de dor. A infância precisa ser um período de delícia, de alegres impulsos tratados com condescendência. Devem ser dados todos os acessos à livre expressão, o que, certamente, é prazeroso, e não se deve causar sofrimento pelas imposições da disciplina e das exigências do dever, o que é, certamente, doloroso. A infância deve ser repleta do máximo de brincadeiras e do mínimo de trabalho possível. O que não puder ser realizado por meio de esquemas pedagogicamente elaborados para tornar o aprendizado em um jogo excitante deve ser, necessariamente, deixado de lado. Deus me livre de o aprendizado ter sempre o caráter de uma ocupação séria — tão séria quanto ganhar dinheiro e, talvez, muito mais trabalhosa e dolorosa.

O espírito do jardim de infância, de brincadeira ao estudar, invade nossas faculdades. A maioria dos estudantes do curso superior experimenta, pela primeira vez, o gosto do estudo como um trabalho duro, que exige esforço mental e empenho contínuo, quando entra para os cursos de Direito ou de Medicina. Aqueles que não assumem uma profissão descobrem o que o trabalho, realmente, significa apenas quando precisam ganhar a vida — isso se os quatro anos de faculdade não os amaciaram a ponto de torná-los incapazes de conseguir um emprego. No entanto, mesmo aqueles que, de algum modo, recuperam-se da vagabundagem acadêmica e aceitam as responsabilidades e obrigações envolvidas em ganhar a própria vida — mesmo aqueles que começam, gradualmente, a entender a conexão entre trabalho, dor e sustento —, raramente, se é que um dia, estabelecem uma conexão similar entre trabalho, dor e estudo. “Estudo” é o que eles fizeram na faculdade, e eles sabem que aquilo tinha muito pouco a ver com sofrimento e trabalho.

A atitude, atualmente, de muitas instituições de educação de adultos é, ainda mais, condescendente — não apenas de coração mole — diante do grande público com que se deparam: um público que teve todos os tipos e qualidades de ensino. O problema não é, simplesmente, que este grande público tem sido mimado por qualquer escolarização — mimado no duplo sentido de estar despreparado para levar adiante sua própria autoeducação na vida adulta e não estar predisposto a sofrer as dores por amor ao aprendizado. O problema reside, além disso, no fato de que as instituições de ensino de adultos infantilizam os alunos ainda mais do que as escolas mimam as crianças. Eles têm transformado toda a nação — na medida em que a educação esteja envolvida — em um jardim de infância. Tudo deve ser divertido. Tudo deve entreter. A educação dos adultos deve ser feita tão sem esforço quanto possível — indolor, livre de fardos opressivos e das tarefas irritantes. Homens e mulheres adultos, porque são adultos, podem esperar sofrer dores de todos os tipos no curso de suas ocupações diárias, sejam elas domésticas ou comerciais. Nós não tentamos negar o fato de que cuidar de uma casa ou manter um emprego é algo, necessariamente, exaustivo, mas nós, ainda, acreditamos que, de alguma forma, os bens obtidos, a riqueza e o conforto, valem o esforço. Em todo caso, nós sabemos que nada pode ser obtido sem esforço. Tentamos, entretanto, fechar os nossos olhos para o fato de que o aprimoramento de uma mente ou a ampliação de um espírito é, no mínimo, mais difícil do que solucionar problemas de subsistência, ou talvez nós apenas não acreditemos que conhecimento e sabedoria valham o esforço.

Nós tentamos transformar a educação de adultos em algo tão empolgante quanto um jogo de futebol, tão relaxante quanto um filme e tão fácil à inteligência quanto um quiz. Caso contrário, nós não estaremos aptos a atrair as grandes multidões, e o que importa é atrair o maior número de pessoas dentro do jogo educacional, mesmo se, depois de incluirmo-nas no jogo, elas concluam-no sem passar por nenhuma transformação. O que repousa por detrás da minha observação é uma distinção entre duas visões de educação. Em uma delas, a educação é algo externamente acrescentado à pessoa, como as suas roupas ou algum traje. Nós convencemo-na a permanecer ali enquanto a ajustamos e, ao fazermos isto, somos guiados pela sua aprovação ou desaprovação, pelo seu próprio senso do que melhora a sua aparência. Na outra visão, educação é uma transformação interior da mente e do caráter de uma pessoa. Ela é um material plástico a ser aprimorado, não de acordo com as suas inclinações, mas de acordo com aquilo que é bom para ela. Por ser uma coisa viva, e não uma argila morta, a transformação pode ser efetivada apenas por meio de sua própria atividade. Professores de todos os tipos podem ajudar, mas eles só podem fazê-lo no processo de aprendizado que precisa ser dominado, a cada momento, durante a atividade do aluno. A atividade fundamental envolvida em todos os tipos de aprendizado genuíno é a atividade intelectual, a atividade, genericamente, conhecida como pensar. Qualquer aprendizado realizado sem pensamento é, necessariamente, do tipo que tenho chamado de externo e adicional — conhecimento adquirido de forma passiva, o qual costuma ser denominado de “informação”. Sem pensamento, o tipo de aprendizado que transforma uma mente, dá novos insights, ilumina, aprofunda a compreensão, eleva o espírito, simplesmente, não pode ocorrer.

Qualquer pessoa que tenha concluído um pensamento, por menor que seja, sabe que é doloroso. Trata-se de trabalho duro — na verdade, é a coisa mais difícil que os seres humanos são chamados a fazer. É fatigante, não revigorante. Se for permitido seguir o caminho de menor esforço, ninguém, jamais, pensará. Para fazer meninos e meninas, ou homens e mulheres, pensarem — e, por meio do pensamento, submeterem-se à transformação do aprendizado —, as instituições de ensino de todos os tipos trabalham na direção contrária, não na correta. Longe de tentar tornar todo o processo indolor, do começo ao fim, devemos prometer-lhes o prazer da realização como uma recompensa a ser alcançada apenas por meio de trabalho duro. Eu não estou aqui preocupado com a retórica que deveria ser empregada para convencer os americanos de que sabedoria é um bem maior que a riqueza, e, portanto, merecedora de maior esforço. Eu estou somente insistindo que não há uma via de pompa e de realeza e que nossas atuais políticas de ensino, especialmente para educação de adultos, são fraudulentas. Estamos fingindo dar-lhes algo que é descrito nos comerciais como muito valioso, mas o qual, nós prometemos, não lhes custará quase nada.

Não somente declaramos que dor e trabalho são os acompanhamentos inamovíveis e irredutíveis do genuíno aprendizado, não somente devemos deixar o entretenimento para os entertainers e fazer da educação uma tarefa, não um jogo, mas, também, não devemos temer o “estar acima das cabeças do público”. Quem quer que passe por aquilo que está acima de sua cabeça condena-a à sua presente baixa altitude; nada pode elevar uma mente, exceto o que está acima da sua cabeça, e esta elevação não é alcançada por atração capilar, mas somente pelo trabalho duro de subir pelas cordas, com mãos feridas e músculos doloridos. O sistema escolar que atende à criança mediana, ou pior, à metade mais devagar da classe; o conferencista que, diante de adultos, fala fácil para a sua audiência — eles são uma legião; o programa de rádio ou televisão que tenta acertar o denominador comum de receptividade popular mais inferior, todos estes anulam o primeiro propósito da educação ao pegar as pessoas como elas são e deixá-las, exatamente, na mesma.

O melhor programa educacional de adultos que já existiu neste país foi um que durou por um curto espaço de tempo debaixo dos auspícios do People's Institut de Nova York, quando Everett Dean Martin era diretor e Scott Buchanan era o seu assistente. O programa possuía duas partes: uma delas consistia em leituras, as quais, tanto quanto possível, estavam sempre direcionadas acima das cabeças da audiência; a outra consistia em seminários nos quais os adultos eram ajudados na leitura dos grandes livros — os livros que estão acima da cabeça de qualquer um. A última parte do programa permanece sendo aplicada pela equipe do St. Jonh's College nas cidades dos arredores de Annapolis, e nós estamos conduzindo quatro desses grupos no campus central da Universidade de Chicago. Eu vi que este é o único tipo de educação de adultos que é genuinamente educativo, simplesmente porque este é o único tipo que requer atividade, não pretende ensinar a evitar a dor e o trabalho e está sempre lidando com materiais bem acima das cabeças de todos.

Eu não sei se, algum dia, o rádio ou a TV serão capazes de fazer algo verdadeiramente educativo. Estou certo de que eles servem ao público em dois sentidos: dando-lhes diversão e dando-lhes informação. Eles podem, ainda, em se tratando dos melhores programas “educativos”, estimular algumas pessoas a fazer alguma coisa por suas mentes buscando o conhecimento e a sabedoria do único jeito possível — o jeito difícil. O que eu não sei, contudo, é se isto pode, em qualquer momento, produzir aquilo que os melhores professores sempre fizeram e que devem, agora, estar fazendo: a saber, expondo programas que são, genuinamente, educativos, em oposição àqueles que são, meramente, estimulantes, no sentido de que os seguir requer do ouvinte que ele seja ativo, e não apenas passivo, que pense, mais do que apenas relembre conteúdos na sua mente, e que sofra todas as dores de amarrar os próprios cadarços por sua própria conta. Por certo, enquanto os chamados diretores educacionais continuam a agir com base em seus atuais falsos princípios sobre nossas principais redes de ensino, nada poderemos esperar. Enquanto eles confundem educação com entretenimento, enquanto eles supõem que o aprendizado pode ser realizado sem dor, enquanto eles persistem em puxar tudo e todos para debaixo do mais baixo nível no qual o maior público pode ser alcançado, os programas educacionais disponíveis no rádio e na TV permanecerão sendo o que são hoje — fraudes e ilusões.

Pode ser, é claro, que o rádio e a televisão, por razões econômicas, devam, como o cinema, atingir, com precisão, uma audiência tão grande que as redes não possam dar-se ao luxo de nem mesmo testar programas que não pretendam ser mais palatáveis e prazerosos do que a verdadeira educação pode ser. Pode ser que não se possa esperar que o rádio e a TV tenham uma visão mais sólida de educação e promovam programas mais substanciais do que os que, atualmente, prevalecem sobre os líderes oficiais em educação do país — os cabeças do nosso sistema educacional, de nossas faculdades, de nossas associações de educação de adultos. Em todo caso, entretanto, não nos deixemos enganar sobre o que estamos fazendo. A “educação” toda revestida em roupagens atraentes é o pote de ouro que está sendo vendido em cada esquina da América hoje em dia. Todo mundo está vendendo-a, todo mundo está comprando-a, mas ninguém está dando ou recebendo a coisa verdadeira, pois a coisa de verdade é sempre difícil de dar e de receber. No entanto, a coisa verdadeira pode ser, em geral, tornada disponível se os obstáculos à sua distribuição são, honestamente, reconhecidos. A menos que admitamos que todos os convites ao aprendizado podem prometer prazer apenas como resultado da dor, somente podem oferecer conquista às custas do trabalho, todos os nossos convites ao aprendizado, na escola ou fora dela, seja por meio dos livros, palestras ou programas de rádio e televisão, serão tão inúteis quanto a pior propaganda autorizada de remédios ou quanto a promessa eleitoreira de colocar duas galinhas em cada panela.

POR MORTIMER J. ADLER Publicado, originalmente, no “The Journal of Educational Sociology” em 1941. Tradução: Camila Hochmüller Abadie

Revisão: Fábio Salgado de Carvalho

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O IMBECIL JUVENIL

Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas. O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. 

Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade. 

É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo miméticode que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador. 

Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige. 

Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama. 

Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior. 

Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.


Por: Olavo de carvalho
Do site: http://www.olavodecarvalho.org/textos/juvenil.htm

domingo, 19 de abril de 2015

POR QUE INTELECTUAIS ODEIAM O CAPITALISMO?

Essa pergunta foi elaborada por um dos maiores economistas do século passado: Von Mises. Quero voltar a essa pergunta pois estamos sendo constantemente expostos a intelectuais – seja nas universidades, seja na mídia – fazendo críticas ásperas ao regime que mais riqueza e bem estar trouxe à humanidade. Se o regime capitalista é tão bom, então por que os intelectuais odeiam o capitalismo?

Uma característica importante do capitalismo é que NEM SEMPRE os melhores ganham mais dinheiro. Por exemplo, se Mozart vivesse hoje é bem provável que estivesse fazendo shows por um preço menor que o cobrado por Madona. Se Shakespeare estivesse vivo é provável que vendesse menos livros que Paulo Coelho. No capitalismo, cada um recebe de acordo com sua capacidade de satisfazer o mercado. Em algumas situações o gosto do mercado talvez não seja o mesmo compartilhado pelos intelectuais, assim pode acontecer do mercado pagar altos salários para indivíduos considerados menos talentosos.

Em vista do parágrafo acima, muitos intelectuais se sentem desprezados pelo mercado. Não aceitam o fato de que seus alunos – que acreditam terem menos conhecimento do que eles – são capazes de receber salários maiores. Tais intelectuais não aceitam o fato de que pessoas que eles julgam incompetentes possam ter sucesso no mercado. O exemplo mais claro disso é a agressividade que a Academia Brasileira de Letras demonstra com o escritor brasileiro de maior sucesso dos últimos tempos: Paulo Coelho.

São pelo menos mais 5 anos de estudos intensivos após a graduação para se formar um doutor. Durante esse tempo, o futuro doutor adquire conhecimentos que estão muito além da média da população. Ele tem tempo para se orgulhar de si mesmo e de se imaginar fazendo contribuições significativas para a humanidade. Mas quando finalmente termina seu doutorado, o intelectual é exposto ao mundo; e a verdade é que muitas vezes o mercado não valoriza o conhecimento que ele adquiriu. Resultado: ele receberá um baixo salário. Mais que isso, não receberá homenagens da sociedade, não será entrevistado por jornais, e tampouco irá influir na trajetória política do país. Isso é um duro golpe para o ego de muitos que se imaginam superiores.

O intelectual muitas vezes oferece um produto para o qual não há grande interesse na sociedade. Não que seu produto não seja importante, apenas não há demanda para ele. Assim, após anos de sofrimento (noites sem dormir, pouco dinheiro, etc.) o intelectual descobre que pessoas que estudaram muito menos não só ganham muito mais, como também têm mais prestígio. A mente do intelectual começa então a procurar culpados. Por que ninguém lhe dá o salário que ele julga merecer? Por que a sociedade não lhe presta o devido respeito? Por que sua opinião pouco importa para os outros? Existem várias respostas possíveis para essas perguntas. Mas uma parcela expressiva desses intelectuais irá culpar o capitalismo. Por culpa da sociedade materialista eles não recebem a devida admiração.

Muito do ódio dos intelectuais ao capitalismo não passa de puro despeito. Muito do ódio que os intelectuais devotam ao capitalismo deve-se ao fato desse sistema tratar um intelectual EXATAMENTE da mesma maneira que trata um analfabeto. Verdadeira heresia para alguns intelectuais que acreditam serem merecedores de um tratamento privilegiado. No sistema capitalista os indivíduos recebem de acordo com sua produção, de acordo com sua capacidade de satisfazer as demandas da sociedade, e não por títulos acadêmicos.


POR ADOLFO SACHSIDA
Fonte: http://bdadolfo.blogspot.com.br/2007/08/por-que-os-intelectuais-odeiam-o.html