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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sábado, 28 de abril de 2012

DISTÂNCIA SUBJETIVA



Diante de algumas situações do dia a dia, é interessante ter a percepção de como 'congelamos' alguns conceitos internalizados e os reproduzimos às vezes sem traduzi-los para a dimensão que realmente estamos. Atrevo-me aqui em 'brincar' com a definição de distancia. A geometria em sua linguagem corrente define distância como a medida da separação de dois pontos, entre dois objetos ou pessoas. Penso sobre esta definição e me surge uma questão: E entre duas pessoas, podemos aplicar também o conceito geométrico de distancia? A meu ver sim, porém apenas do ponto de vista material. Penso que quando entramos na dimensão subjetiva das emoções, lembranças e da imaginação os pontos físicos e estáticos desaparecem e nossas referencias de medida esvaem-se como a agua entre os dedos das mãos. Para alguns a distancia não os separa de outras pessoas, ou até mesmo de lugares ou coisas.

Tive esta sensação quando num dia ao compartilhar por e-mail outro artigo com alguns amigos, por surpresa recebi  outros e-mails como resposta, e dentre estes um me chamou atenção: O e-mail do Altair, popularmente conhecido como 'Cabeça'. Este meu amigo e ex-colega de trabalho de forma saudosa escreveu da saudade que sentia daquela equipe de amigos da qual trabalhamos juntos, e questionava por que muitos amigos se afastam por causa da distancia?! Na mesma hora respondi a ele: A distancia é subjetiva amigo! Explico: No instante em que recebi, 'processei' e comecei a responder a mensagem do 'Cabeça' lembrei instantaneamente de uma cena do filme 'Cruzada', onde o personagem 'Balian', interpretado por Orlando Bloom, argumentava em favor de sua falecida esposa, sentenciada ao inferno por um religioso, por que ela teria tirado a própria vida após ter perdido seu filho no parto. Interpelado, o personagem argumentou: 'Como pode estar no inferno se ela não sai das minhas lembranças?' Bastaram me ficar alguns segundos em silencio, para que as imagens destes meus amigos  viessem em minha mente, e de repente estavam todos eles ali, em meu imaginário, mas bem na minha frente.



A filosofia clinica chama este movimento de deslocamento longo, que se baseia na capacidade do individuo de imaginar-se longe no tempo, ou trazer fatos do seu passado distante para perto de si. Este aspecto da estrutura do pensamento pode para algumas pessoas, proporcionar momentos de refrigério, de saudosismo ou até de nostalgia. Alguns ao contrario podem sentir-se desconfortáveis ao relembrarem momentos difíceis ou ruins de sua historicidade. A minha experiência neste caso foi muito positiva, pois o convívio com esta turma da qual escrevo trata-se de uma boa lembrança, de um tempo muito bom, de amigos que pareciam irmãos, de dias que pareciam que não tínhamos problemas. Na verdade para mim a maioria dos problemas só existe no momento presente. Após superados ou dissolvidos permanece aquilo que é positivo. Ao lembrar estes amigos me veio à imagem nítida do Altair 'Cabeça' rindo e fazendo piada com o Marcos 'Sabão', que por sua vez imitava o 'seu' Zeca Rech e fingia rasgar os relatórios de auditoria na frente do chefe, tudo pra fazer os outros rirem. Quanto o mais poderíamos lembrar a respeito do nosso passado se conseguissemos focar os olhos de nosso imaginário nos momentos positivos e agradáveis de nossa memoria. Para mim, poder revisitar o dia de ontem e deixar a lupa que aumenta os defeitos e as limitações do outro no dia presente, pode ser uma maneira interessante, para quem sabe, reatar relacionamentos quebrados, aceitar algumas diferenças, reaproximar-se de alguém que foi ou é querido, nem que seja na lembrança e por alguns segundos. Este pode ser o primeiro passo para alcançar outros níveis de maturidade e lidar com a distância daqueles que amamos ou com as ausências indesejadas forçadas pela história e natureza da vida. Para mim, vale a pena tentar.


Por André Topanotti - Criciúma/SC - 28/04/2012. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ir ao Mundo do Outro

Olá...

Hoje pela manhã foi difícil para mim não abrir o link deste artigo publicado pelo Beto Colombo. Como tivemos a experiência de estudar profundamenrte sobre Emmanuel Levinas em Israel este ano, quando algo faz referência ao tema, impossível agora ficar indiferente. Alinhado ao artigo que publiquei em 15/04/2012  - "Quando o rosto do outro muda", Levinas nos remete ao conceito de "Sagrado" quando entramos na vida dos outros através de nossas idéias, conselhos, juízos e pré-juízos. As Sagradas Escrituras ainda citam, através do apóstolo Paulo em Iª Corinto 3:16 "... sois templo do Espírito Santo...", ajudando ainda mais a fundamentar a interpretação de Levinas sobre o "outro sagrado". Alguns de nós pode interpretar este "templo" com vistas a cuidar-se quanto aos "seus pecados", seus erros. Mas deixe-me provocar um pouco mais: E quanto a nós quando adentramos no "templo sagrado" do outro... não deveríamos nos preocupar ainda mais?! Lembro muito bem de um dos conselhos de meu pai, que quando ainda guri me via com brinquedos emprestados por outros amigos, ele firme já ia me advertindo: "Cuida bem do brinquedo do teu amigo, porque quando algo não é da gente, daí mesmo é que temos que cuidar André". Pense nisto, e leia o artigo até o final. Para mim, vale a pena!

Forte abraço


André Topanotti



Querido leitor, paz! Desde que passei diariamente a falar na Rádio Som Maior, muitas pessoas que me encontram debatem na rua, fazendo suas ponderações, assim como também fazem sugestões de temas e, geralmente, os acolho. Hoje, por exemplo, vou falar de um tema sugerido pela xará Albertina Manenti Silvestrini.

Refiro-me ao livro “Operação Cavalo de Tróia”, de JJ Benitez, lançado em 1984, que conta que no fim da vida, em seu refúgio no México, um militar e cientista da Força Aérea estadunidense confia a ele documentos que, surpreendentemente, revelam a execução de uma experiência que lhe permitiu voltar no tempo. Na verdade, retornar quase dois mil anos e ser testemunha ocular e participante dos últimos dias de Jesus Cristo na terra. Ele foi testemunha de sua entrada em Jerusalém, de sua prisão, julgamento, crucificação e ressurreição.

Esta experiência, batizada pela NASA de “Operação Cavalo de Tróia”, teria sido realizada sigilosamente em 1973, em pleno coração de Israel. O major chamava esta experiência prodigiosa de “a grande viagem”. Esta viagem exigia a aceitação e cumprimento de algumas regras na qual pretendo refletir com vocês, meus ouvintes:

A primeira regra era que os exploradores não podiam, sob nenhum pretexto, nem sequer de sobrevivência, mudar ou influir nos homens, grupos sociais ou circunstância. Resumindo: a história não poderia ser modificada. Já a segunda regra era de que os “grandes viajantes” não poderiam levar nem trazer nada do mundo do outro. Afinal de contas, suas missões não eram julgar as pessoas ou os acontecimentos, mas sim, observar e ser testemunha.

Boa parte dos meses anteriores à viagem, o major se dedicou a estudar a língua falada por Cristo, o aramaico ocidental ou galileo. O major não quis se aprofundar muito nos textos bíblicos, para enfrentar os fatos sem ideias preconcebidas e de espírito aberto, com a obrigação de observar e transmitir a verdade daqueles dias, conservando uma atitude limpa e desprovida de pré-juizos. Tanto a nave chamada de “berço”, quanto o major foram revestidos com uma película protetora para evitar que germes fossem ingressados em outro tempo e em outras pessoas.



Durante a releitura desta obra, agora com o olhar filosófico clínico, me peguei pensando nas vezes que vamos ao mundo do outro com a pretensão de influenciar na sua história de vida, às vezes com conselhos, fofocas. Quantas vezes vamos ao mundo do outro com a pretensão de torná-los a nossa imagem e semelhança. Das vezes que vamos ao mundo do outro como juízes e, pior, com a sentença pronta. Que direitos temos de ir ao mundo do outro levando nossos germes? Será que temos o direito de ir ao mundo do outro levando nossos problemas, nosso mau humor, nossas queixas?


Lembro-me dos meus primeiros dias de estágio como aprendiz de filósofo clínico o quanto foi difícil exercitar o ouvido atendo, me dedicando em apenas ouvir a história de vida do partilhante sem interferir, sem agendar, sem julgar, sem interromper para simplesmente não mudar o curso da história do meu partilhante.


Para mim como pai, para você como mãe, como vamos ao mundo dos nossos filhos? Você professor, empresário, comerciante, político... Quem é o outro e como vamos aos seus mundos? O outro, para Emanuel Lévinas, é solo sagrado e não podemos adentrar nesse solo levando as sujeiras de nossas sandálias.


É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre ir ao mundo do outro?
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Por Beto Colombo - Artigo veiculado na Rádio Som Maior FM no dia 26/04/2012 e no Jornal A Tribuna no dia 27/04/2012.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lembranças e Mudanças

Olá...

Meu colega de pos-graduação em filosofia clínica, Aloysio Tiskoski, postou na última sexta (20/04) em seu blog, um texto muito interessante sobre as recentes e relevantes mudanças de comportamento em nossa sociedade. Reflete muito bem a sutil transição da Geração "Baby-Boomers" para a Geração "X" e o forte contraste destas duas primeiras com a Geração "Y", principalmente evidenciada após a chegada da última no mercado de trabalho. Aos meus  dedicados alunos de  administração de recursos humanos da Unesc, INDISPENSÁVEL a leitura. Quem sabe o texto pode cair na próxima avaliação.

Um forte abraço! 

André Topanotti




Aloysio Tiskoski: Para quem já viveu algumas décadas, os eventos da infância dizem respeito a um passado distante, que as novas gerações desconhecem, ou pouco conhecem, principalmente se aconteceu fora das grandes cidades. Vida cotidiana sem energia elétrica, televisão, bicicleta, motocicleta, automóvel, telefone, internet, celular e sem computador. Vida simples em casa de madeira sem trancas, onde atos de violência e insegurança eram uma exceção. As roupas que usávamos, apesar de escassas e que passavam de irmão para irmão, eram separadas em três categorias; roupa para o trabalho, para a missa e o uniforme para a escola. Um par de sapatos de borracha e usado apenas para ir a missa. As roupas do trabalho quando desgastavam eram remendadas com tecido, geralmente de outra cor, mais parecia um mosaico. Homem com calças remendadas na altura do joelho e coxas era considerado trabalhador. Homem com calças remendadas na altura da bunda era considerado preguiçoso, visto que a mesma sofria desgaste por sentar com frequência. Fumar cigarro de palha e usar um facão com bainha na cinta, sinal que o menino virou homem. Ferramentas de trabalhos eram a enxada, machado, foice, facão, canivete e foice de mão. O trator da época era uma boa junta de bois. Nosso pai era mestre em domar bois novos. Lembro de uma junta que marcou época em nossa fazenda de 18 hectares, chamados, Salino&Sereno. Nós que estamos entre 40 e 60 anos somos a última geração que obedeceu regiamente nossos pais e também a primeira a obedecer nossos filhos. As mudanças foram bruscas. O que impressiona é a capacidade de nos adaptarmos rapidamente. Senão vejamos; o computador e o celular, talvez os que mais impuseram mudanças, hoje fazem parte da vida de cada um como se sempre estivessem disponível. Nos permitem falar com pessoas de todo o planeta vendo seus rostos, acessar todo e qualquer informação gratuita e instantaneamente. Caminham para fundir-se com a televisão.



Outras mudanças menos evidentes, porém não menos importantes estão ocorrendo, como a valorização da futilidade. Em outras épocas admirávamos pessoas cultas, a boa música, o canto coral, o professor sabia e sabia transmitir conhecimento, o padre era visto com respeito e era conselheiro familiar e da comunidade. Pais e avós eram conselheiros de toda hora. Nos dias atuais a música sacra e o canto coral foi substituído pelo bate-estaca e congêneres. Surgem e desaparecem como relâmpagos. Quem não ouve a música ou cantores da moda, como o Michel Teló, “esta por fora”. Os livros mais vendidos, tem importância econômica pelo volume vendido, porém de valor literário duvidoso. Encontrar bons livros esta cada vez mais difícil. Cantores decadentes em suas terras de origem, lotam estádios no Brasil. Ou gostamos do que a maioria gosta, ou logo somos taxados de querermos ser superiores aos demais, como se crime fosse não estar alinhado com a maioria. Um amigo professor me informou que a literatura mundial foi substituída nas escolas por autores nacionais. Nada contra autores nacionais mas como ficamos sem ler clássicos como Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Agostinho, Cervantes, Nietzsche, dentre muitos outros? Existe vida inteligente fora da leitura, principalmente leitura de boa qualidade? Nossas vidas sofrem transformação por vários motivos, mas a leitura transforma e liberta de forma definitiva. Impossível conhecer o mundo sem leitura, mesmo para um viajante contumaz. Com o advento da internet a leitura ficou extremamente facilitada e o acesso aos grandes clássicos da literatura mundial estão a poucos clics. Será que é isto que a juventude anda fazendo, ou estão apenas acessando filmes, músicas e navegando nas redes sociais, onde no entanto as futilidades tem expressão maior. A comunicação predomina através da imagem. O grande avanço, ao que parece ocorreu apenas na tecnologia e esta pode libertar ou aprisionar, depende como cada um lida com isto, lembrando que isto é assim para mim.


Por Aloysio Tiscoski - Sexta-feira, 20 de abril de 2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Faça o que eu digo, faça o que ele faz.

Estudando um pouco do comportamento humano podemos observar através de pensadores como Bruce e Linda Campbell que contribuíram no desenvolvimento de uma teoria chamada PNL (programação neuro linguística) da qual um dos maiores disseminadores no Brasil foi o Dr. Lair Ribeiro, que recentemente esteve em Criciúma realizando palestra. Segundo estes estudiosos, existem algumas formas diferentes de se aprender. Campbell da o exemplo de algumas delas: Pela PNL, há quem seja auditivo, aquele indivíduo que aprende e internaliza conceitos primordialmente pelo ouvir. Ha ainda os visuais, que aprendem e inclusive memorizam fatos e nomes mais facilmente usando o sentido visual. Neste grupo temos ainda os sinestésicos que são aqueles que precisam ver ouvir e fazer, ou seja, para estes indivíduos é essencial praticar, usar todos os sentidos para aprender e internalizar conceitos. Vale dizer que a PNL nos indica como na maioria das vezes estes indivíduos irão aprender. Isso quer dizer que esta mesma pessoa poderá também aprender das outras formas, mas uma delas é a que será predominante.




Certo dia eu ouvi de um aluno em sala de aula a respeito de seu chefe: "Professor, não adianta, ele e do tipo 'faça o que eu digo e não faça o que eu faço." Na hora apenas ouvi, mas depois que entrei em meu carro e a caminho de casa fiquei pensando naquela expressão. Porque muitas vezes algumas pessoas são assim? Esta situação ficou em minha mente até que fiz esta relação com a PNL. A luz do que Campbell nos diz, algumas pessoas podem ter grande habilidade em expressar suas experiências e transmiti-las a outros, porem para aprender precisarão realizar, praticar muito, e provavelmente errar muito no caminho da prática do que efetivamente pensam. Terão provavelmente que lidar com a dualidade humana de forma muito mais dura talvez, que àqueles que não têm esta característica. Por outro lado, existem outras pessoas que aprendem e facilmente conseguem praticar algo, apenas ouvindo, observando a experiência e os ensinamentos de outras pessoas. Pode ser que este segundo indivíduo  não tenha a mesma capacidade daquela de transmitir e comunicar suas experiências ou teoria pois sua epistemologia, ou seja a maneira como ela aprende é diferente daquela que precisa também exercitar, praticar. Para algumas pessoas isto não tem nada a ver com caráter, com também não poderia rotular aquela que não consegue transmitir seus conhecimentos com a mesma facilidade da primeira como alguém egoísta.  Para o sinestésico o que ela fala pode ter haver com suas intenções e com a necessidade de expressar-se, talvez longe dela enganar aos outros. Para esta pessoa, o que ela diz e uma verdade para ela, pois já decidiu sobre aquilo, precisa então praticar.




Para que nossas relações interpessoais se tornem menos preconceituosas por conta de agendamentos generalistas, em minha opinião é importante observar como cada um de nossos pares funciona no seu processo de aprendizado e comunicação. Não quero dizer com isto que algumas pessoas não tenham uma predisposição para mentir ou enganar. Também existem sim alguns indivíduos mal intencionados e com sua motivação direcionada a prejudicar seu próximo, porém creio que outras tantas necessitam ser apoiadas, encorajadas na busca do que acreditam e que comunicam aos outros. Mais uma vez reforço que não pretendo fazer desta reflexão uma defesa ao mau-caratismo, mas sim usar deste espaço para chamar a nossa atenção para a individualidade e característica pessoal de cada um, que na maioria das vezes é positiva e bem intencionada, porém corriqueiramente mal interpretada. Se fizéssemos uma visita a todos os nossos discursos e as nossas crenças, será que conseguiríamos encontrar total coerência entre a verbalização, a intenção e a prática? Seja sincero, mas avalie! Então, creio ser prudente observar mais as pessoas, conhecê-las, entender sua estrutura de pensamento, para daí quem sabe formar algum conceito, que para alguns filósofos será totalmente inútil, por que em segundos o homem pode mudar, e tudo o quanto se conceituou, logo poderá se tornar obsoleto pela plástica dinâmica do ser humano. Se observarmos mais as pessoas e o seu funcionar, provavelmente poderemos reduzir de forma considerável as generalizações, pois na minha experiência constatei que, em se tratando de “gente”, esta prática perde o sentido. Que tal então, ouvir e avaliar antes de generalizar? Para mim, vale a pena tentar.


Por André Topanotti - Criciúma/SC - 23/04/2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um novo olhar sobre Israel

Por Aloysio Tiscoski e André Topanotti

Foi comum ouvir perguntas sobre a segurança em Israel durante a preparação para esta viagem de estudos na Universidade Hebraica de Jerusalém. Algumas brincadeiras do tipo “... pós-graduação em que?! Olha, acho que é pra ser homem bomba!” Na hora eu sorri, brinquei, mas no meu silencio, algo me incomodava. Já era talvez o presságio de que iríamos encontrar algo totalmente diferente. E foi exatamente isto que pude constatar: Uma nação e um povo fantástico. Nas linhas abaixo meu colega de estudo Aloysio Tiscoski relatou ao chegar no Brasil sua impressão, que a tomo emprestada e me atrevo a comentar, pois compartilho também da sua percepção. Anexei ao texto algumas fotos para ilustrar e tentar demonstrar a riqueza deste país, que para mim, vale a pena conhecer.

Aloysio: Instalados no Marina Hotel as margens do mar mediterrâneo em Tel Aviv. Estivemos em um grupo de 35 brasileiros com o objetivo de estudar o grande filósofo Emmanuel Levinás, lituano de nascimento, herdeiro da cultura judaica, cresceu em um ambiente em que língua e literatura eram o russo e hebraico, idiomas falados e estudados em sua casa. Foi prisioneiro de guerra nos campos de concentração nazistas. Conhecido como o filósofo da alteridade, tem como sua obra principal o livro Totalidade e Infinito escrito em 1961. Levinás, muito influenciado inicialmente pelas idéias de Husserl e de Heideger é um dos principais pensadores da corrente fenomenológica. Seu pensamento ganhou força própria e se dirigiu principalmente para o terreno da ética sendo esta considerada por ele a filosofia primeira. Para ele o homem é alguém cujo sentido só pode ser encontrado na sua relação com o outro. Sua reflexão segue o caminho da defesa da subjetividade baseada na ideia do infinito, entendido como abertura ao reconhecimento do outro. Israel, localizado no Oriente Médio, ao longo da costa do mar Mediterrâneo, fazendo fronteira com Líbano, Síria, Jordânia e Egito, surpreende positivamente por ser a única democracia da região. Transformou deserto em ambiente habitável, nesta época do ano o verde predomina.


A preservação ambiental é levada ao extremo, a produção agrícola, apesar do deserto, tem grande importância, produzindo mais de 90% do consumo interno e como curiosidade pode-se observar bananais verdes ao norte. Israel exporta tecnologia em vários setores o que sugere que a educação, que é obrigatória dos 5 aos 18 anos, realmente é levada a sério. A infraestrutura do país é impecável, aeroporto moderno, ferrovias, autoestradas ligando as cidades de norte a sul de leste a oeste. É o que costumamos chamar de um país de primeiro mundo. A renda é de U$ 28 mil per capita. A rede de assistência social tem ampla cobertura. A indústria de Israel concentra-se nos produtos manufaturados de alto valor agregado baseados principalmente em inovações tecnológicas. Isso inclui equipamentos eletrônicos para a área médica, agrotecnologia, telecomunicacões, hardware e software, energia solar, processamento de alimentos e química fina. Dois são os idiomas oficiais, árabe e hebraico.Cerca de 75% da população são judeus, 20% árabes. Jerusalém com seus 800 mil habitantes é a capital política e religiosa do país. Uma cidade próspera e vibrante, sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos. A segurança é um dos pontos fortes em todo o território do país. Visitamos o monte das Bem Aventuranças, lugar do Sermão da Montanha, Rio Jordão, navegamos pelo mar da Galiléia, Mosteiro Carmelita de Stella Maris, bem como os jardins persas do Templo Bahai. Estivemos na aldeia medieval Jaffa, famosa porque, conforme a Bíblia, o profeta Jonas saiu em direção a Társis e foi engolido pela baleia.

Em Jerusalém estivemos na parte antiga da cidade, Muro das Lamentações, Monte da Oliveiras, percorremos a Via Dolorosa com suas 14 estações e a Igreja do Santo Sepulcro. Diariamente nos deslocávamos de ônibus de Tel Aviv à Jerusalém até a Universidade Hebraica, uma das mais importantes do mundo, que nos acolheu e possibilitou realizarmos os estudos com mestres como, Cyril Aslanov, Shalon Rosenberg, Leonardo Senkman, Shmuel Scolnikov, Rina Rosenberg e Lucio Packter. Voltamos no último sábado, dia 31 de março com a sensação do dever cumprido, tendo encontrado um país muito diferente do que a mídia diariamente mostra. Israel é talvez o maior laboratório mundial onde se busca a convivência pacífica entre povos, religiões, crenças, com o diferente. A depender dos seus principais filósofos, existe esperança.

Esta foi a nossa impressão.

O Silencio que fala alto

Olá...

Nesta manhã compartilho com vocês a percepção e reflexão que fiz deste artigo do Beto Colombo. Ao ler e captar as principais idéias do texto, relacionei facilmente com nosso cotidiano e tive a nítida sensação que estamos ficando surdos. Sim, um silencio barulhento que não nos transmite informação nenhuma e que impede de nos comunicarmos com nós mesmos. Talvez por conta disto o grande e crescente número de depressivos e estressados em nossa nova e moderna sociedade. Daí extraio um grande desafio:  Se o indivíduo não consegue sequer escutar a si próprio, e conhecer-se, como então conseguirá escutar o outro? É desafiante, mas vale a pena tentar, e também continuar lendo o artigo do Beto.

Forte abraço!

André Topanotti





Querido leitor, aceite o meu fraternal abraço. Nos últimos anos, tenho procurado valorizar a simplicidade da vida, até de forma lúdica e ingênua, se é que dá pra falar assim. E o silenciar é um caminho tão intenso quanto profundo. Na verdade, para mim, o silêncio mostra muito.  Ainda na infância lembro de dias silenciosos sem televisão, sem rádio, passávamos boa parte do tempo ouvindo e discernindo o cantar dos pássaros, se arrepiando com os sons uivantes do vento. Na tenra idade, marcou-me muito os poucos momentos em que esse silêncio era quebrado e um deles era quando o leiteiro de charrete tocava sua buzina avisando que estava passando e era a deixa para trocar a vasilha.

Há poucos anos, precisamente em 2006, quando fiz o Caminho de Santiago pela primeira vez, tenho saudade dos dias inteiros em que fiz companhia para mim, em silêncio, ouvindo somente meus passos quando a bota arrastava no chão, ou até o toque o cajado dando o tom da caminhada, anunciando o ritmo da jornada rumo à casa do Santo. Hoje sei que não caminhava a Compostela, a jornada era pra dentro de mim.  Esta mesma energia do acesso interno só conseguida por mim via silêncio, acessei recentemente neste verão.



Era fim de semana, estava só na casa da lagoa. Acordei cedo, como de hábito. Olhei para aquele mar de água doce e me veio uma vontade gostosa de entrar na água de caiaque. Não deu outra, não eram seis horas quando remava naquelas águas mansas e cheias de incógnitas. O frescor da manhã tocava minha pele, respirava ar úmido, estava só naquela imensidão da Lagoa dos Esteves. Estava eu e eu. Remava sem direção, mas remava. Talvez como lá em Santiago, também remava para dentro de mim. Não via e nem ouvia ninguém, só o som dos remos entrando e saindo da água que era minha aliada abrindo caminho para dentro de mim. Os remos entravam na água, provavelmente a mesma que circula em minhas veias, numa sincrônica batida que lembrava as batidas do meu coração. Foram momentos de solitude, instantes de inteireza. Eu era o tudo, era o nada. Era eu.

Mas como vivemos neste plano tridimensional, dual, logo o outro lado me vem e passo a vivenciar os sons, os ruídos e barulhos na maioria das vezes ensurdecedor dos carros, jet ski, televisão, músicas bate estaca, “bem-vindo a outra realidade”, pensava em silêncio.
Fazendo um comparativo com aquela criança que fui lá na encosta do morro, hoje lembro que os “barulhos” quebravam a rotina do silêncio. Trazendo para hoje, é o silêncio que quebra a rotina do barulho. Mas para ouvir o silêncio é necessário muito esforço. Mas que vale a pena. Na verdade, para mim, o silêncio fala alto.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre silêncio?


Por Beto Colombo - Artigo veiculado na Rádio Som Maior FM no dia 19/04/2012 e no Jornal A Tribuna no dia 20/04/2012.

domingo, 15 de abril de 2012

Quando o rosto do outro muda


          Nestes últimos dias tive oportunidade de aprofundar meus conhecimentos em um pensador e filósofo contemporâneo chamado Emmanuel Levinas. Alguns conceitos importantes podem destacar a obra deste estudioso, como “o outro” e seu “rosto”. O outro que Levinas conceitua diz respeito ao universo infinito e intocável que temos diante de nós quando contemplamos o ser humano em sua forma autentica. Por exemplo, quando você olha sua esposa, seu marido, filho ou seus pais e amigos, você está vendo uma fração deste outro em sua individualidade rica e dinâmica. Simplifiquei aqui o conceito de “outro”. Caso o outro olhe pra você e convide você a fazer parte de seu mundo, ao entrar em seu convívio, convida-o a estender sua mão a ele e ampliar seu conhecimento a respeito deste mesmo que o convida. Este convite é feito através de seu “rosto”. O rosto é como o outro se mostra a nós, e como nós mesmos também nos mostramos ao outro. 
            Muito bem, e o que muda a partir disto? É aí que a filosofia clínica nos auxilia a relacionar conceitos importantes como os de “rosto e o outro” com o nosso dia a dia. Pensando a respeito, lembrei de um fato que me ocorreu em uma empresa onde trabalhei alguns anos a atrás. Na oportunidade tinha assumido um cargo de liderança, e estava empenhado em formar uma boa equipe de trabalho, capacitar meus liderados e é claro, corresponder às expectativas da empresa que havia me dado àquela oportunidade. Acreditava, e continuo acreditando, que para uma equipe alcançar resultados permanentes, precisamos desenvolver as pessoas envolvendo-as nas decisões, fazendo-as se sentir parte do trabalho, e fundamentalmente tratando-as com respeito. Tal foi minha surpresa quando percebi que o conceito de “respeito” que procurava ter pelas pessoas da equipe, seu significado foi confundido por uma delas com o de “bondade”, na minha visão talvez de “condescendência”.  Provavelmente esta pessoa julgou que poderia fazer seu próprio horário, portar-se como lhe conviesse, cumprir as atividades no prazo que quisesse. Talvez pela minha forma de trabalhar, ela acreditava que acima de tudo, eu iria “respeitá-la”. Na verdade a situação me incomodava porque pela minha percepção ela estava aproveitando-se da situação. Chamei-a algumas vezes para conversar, procurei entender o que estava acontecendo, manifestei meu aborrecimento com as atitudes e os fatos que presenciava na relação dela comigo e com a equipe. Infrutífero! Certo dia precisei tomar a decisão que já me era inevitável: Demitir aquele profissional. Naquela oportunidade, ouvi: “...é... um dia as pessoas sempre mostram a sua verdadeira cara...” 
            Aqui vêm à relação que podemos fazer do rosto e do outro que Levinas nos ensina. Supostamente para o profissional demitido, o rosto que eu mostrei no início de nosso trabalho mudou, pois tinha tomado uma decisão que lhe foi dura e naquele instante o prejudicou. Se eu fosse questionado lá naquele dia, diria que o rosto dele é que mudou, que tinha se mostrado um bom funcionário, depois quis se aproveitar de alguma forma das circunstancias em benefício próprio. Hoje, refletindo sobre este ocorrido, penso que nem eu e nem ele mudamos o rosto. Provavelmente o que encontramos foi um pouco do “outro” que também realmente existia dentro de nós. Quando isso ocorre, uma reação comum para alguns é de surpresa, para outros, motivo de mágoa ou decepção e por vezes de rupturas de relacionamentos, de amizades. Por vezes, a convivência intensa e a intimidade nos relacionamentos proporcionam diversas oportunidades de conhecermos as pessoas que nos cercam, porém muitos têm o hábito de achar que as pessoas são aquilo que elas nos mostram. Pode ser que algumas pessoas se mostrem para nós, durante algum tempo, da forma como entende que gostaríamos que elas fossem, não como realmente são. Podem fazer isto por muitos motivos: por carinho e amor, por admirar alguém e projetar a si mesmo nela, ou ainda por medo de serem rejeitadas. Algumas até por interesse próprio e outras por nenhum motivo proposital ou lógico, entre tantos outros. É sábio entender que muitos de nós também funciona assim com os outros.
Quantas vezes olhamos para as pessoas em nossa volta e achamos que são elas que mudaram conosco. O amigo que nos esqueceu, o patrão que parece ter nos eleito  para “pegar no pé”, a filha ou filho que não nos liga, enfim, o rosto do outro mudou. Será?! Talvez estejamos entrando em contato com parte daquilo que o outro também é, e não estamos gostando do que estamos descobrindo, porque suas opiniões podem ser diferentes e não conseguimos lidar com as diferentes opiniões?! Ou ainda posso pensar: Talvez, será que a mudança não ocorreu em mim e o que percebo é a reação das pessoas a minha mudança? Para adentrar neste terreno rico da auto descoberta e da descoberta do outro, no meu ponto de vista, precisamos exercitar a humildade e o diálogo. Para Levinas isto é tratar o outro como Sagrado. Agir com humildade procurando entendê-lo, e neste processo de abertura, estar preparado para se descobrir também.  Para mim, vale a pena tentar.

Por André Topanotti - Criciúma/SC - 15/04/2012