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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CORRIGI O PORTUGUÊS, E ME DEI MAL.

Comentário de Max Gehringer para a rádio CBN sobre uma ouvinte que foi criticada na empresa depois de apontar erros de português nas comunicações internas:
 
"Eu sempre encontro muitos erros gramaticais nas comunicações internas da empresa em que trabalho. Por isso, enviei um e-mail muito educado para a coordenadora de marketing, que é, em minha empresa, a área que mais assassina o português. A reação dela foi desproporcional à minha boa intenção. Ela respondeu com um e-mail mal criado, com várias cópias, incluindo uma para o meu chefe. E todos chegaram à conclusão de que eu havia me intrometido em algo que não tinha relação direta nem com o meu trabalho, nem com o negócio da empresa. Diplomaticamente eu me desculpei com todos, mas estou magoada. E pergunto se agi tão errado assim?"

Bom, do ponto de vista profissional, sim. Imagino que as comunicações externas da sua empresa passem por um crivo mais acurado e que somente as mensagens do dia a dia contenham os erros que você aponta. E isso não influi nos resultados.

Já do ponto de vista de quem se preocupa em preservar a integridade da língua, você agiu certo. O problema é que hoje um aluno só aprende bem o português se tiver um interesse particular no assunto, porque as crianças são aprovadas mesmo escrevendo errado. E daí em diante, fica difícil consertar o estrago.

Se a sua empresa não faz um teste de português para admitir candidatos, ou se ela acredita que escrever corretamente não é importante, ou se ela se rendeu ao fato de que poucos candidatos seriam aprovados em um teste rigoroso, nem por isso você deve ficar magoada por ter tentado. Se não dá para você mudar o sistema, pelo menos não deixe o sistema mudar você.


Por: Max Gehringer, para CBN - 27/11/2013.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

PROPAGAÇÃO DO EU

Prazer, meu nome é Rosemiro A. Sefstrom. Para você que acompanha semanalmente o que escrevo, quem sou? A descrição que fizer de mim é aquilo que de mim, chega antes mesmo que tenhamos qualquer contato. Pode ser que um dia nos encontremos pela rua, você converse comigo e diga: “Mas este não é o Rosemiro que escreve no jornal, é diferente”. De acordo com Heidegger o que se propaga de mim chega antes de mim pelo que vivi até o momento, em outras palavras, sou o reflexo do meu passado. Agora, este reflexo existe na medida em que está sendo construído. Caso eu pare, comece ser diferente, provavelmente o meu futuro EU também já não será o mesmo. Para o filósofo Heidegger, o Ser está atrelado ao Tempo, daí o nome de sua obra prima Ser e Tempo.

Dando continuidade aos trabalhos de Heidegger vem o filósofo Francês Jean Paul Sartre, conhecido por ser o fundador do existencialismo. Este filósofo se apropria do conhecimento da obra de Heidegger e escreve “o Ser e o Nada”. Nesta obra o filósofo trabalha o conceito de liberdade em seu extremo, dizendo que o homem está condenado a ser livre, em todo momento é ele quem escolhe. Em Sartre o homem é sempre responsável por aquilo que escolhe, não pode de maneira alguma outorgar sua liberdade de escolha ao outro, pois, segundo ele, até mesmo quando outorga sua liberdade de escolha foi por opção que o fez. Completando Heidegger pode-se dizer que Sartre leva o Ser, a existência na direção da responsabilidade do que propaga de si.

Sendo até certo ponto simplista ao falar de modo vulgar sobre as obras de Heidegger e Sartre quero acrescentar que a cada momento sou responsável pelo que se propaga de mim na direção futura e na direção do outro. Então, você, quando chega a algum lugar e a opinião que se tem de você não é das melhores é provável que seja isso que se propagou de você pela sua maneira de ser. Na prática, se seu nome é anunciado por alguém antes mesmo de você chegar e a opinião a seu respeito é ruim, foi isto que se propagou de você. Não há como responsabilizar o seu passado pelas suas escolhas, porque a cada momento há uma nova escolha. É responsabilidade minha, sua, nossa, construir o nosso ser, da maneira que melhor nos aprouver ou da maneira que soubermos fazer.

Tanto Heidegger quanto Sartre foram vítimas de suas próprias filosofias, pois Heidegger passou a ser conhecido como o filósofo do nazismo, assim como Sartre ficou conhecido como o filósofo comunista. Tanto um quanto outro são provas de que o que viveram se propagou para depois deles e sua vida continua mesmo depois de sua morte. De certa maneira ainda são Ser, ou seja, ainda existem entre nós, participam ativamente de nossas vidas e em muitos casos governam nossos destinos. Ser é um exercício constante, no qual somente EU me atualizo a cada instante, sou EU em construção.

Você, enquanto lê pode olhar para a própria vida, para as próprias escolhas e dizer: “Mas o que se propaga de mim não sou eu mesmo”. Pode não ser o que você deseja ser, mas é o que “está sendo”, ou, como pode ser lido em Heidegger, é o que está posto. EU posso ser quem eu quiser, tenho liberdade para escolher, não posso colocar culpa no passado, nem nas amarras que tenho, sou sempre eu mesmo obrigado a ser livre, condenado a escolher. Humano, ser que se propaga para além de si mesmo e pode construir-se a cada momento de sua existência: assim somos Nós.
 
 
Rosemiro A. Sefstrom - 13/11/2013.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A NATUREZA DAS COISAS

Aristóteles discerniu, 23 séculos atrás, algo que nossa sociedade tenta esquecer: há uma ordem no universo, englobando tudo o que existe. Em outras palavras: as leis da física, da química, da política e da moral são apenas aspectos de uma ordem muito maior em que estamos todos inseridos, do homem mais sábio à partícula subatômica mais distante. O modo como nos inserimos nesta ordem é o da nossa natureza; o cachorro é essencialmente diferente da samambaia, que é diferente do homem. Cada um desses seres tem uma natureza distinta. Essa natureza é iniludível; é impossível transformar um homem em cachorro ou um cacto em um gato. Só é possível, ainda que daninho, negar temporariamente um ou outro aspecto de uma natureza; é o que se faz quando se tranca um cão (e se o enlouquece!), negando o gregarismo da natureza canina.

Nossa sociedade é tão useira e vezeira em fazer este tipo de coisa que acaba se convencendo de que as naturezas não existem. Faleceu há pouco tempo um senhor que fizera operações plásticas sucessivas até adquirir uma aparência supostamente felina. Nasceu homem e morreu homem, todavia; qualquer gato que o cheirasse não teria dúvida disso.

Mas vivemos sob luzes artificiais, em ambientes em que o cinza predomina, comendo coisas que vêm em caixinhas com códigos de barra, sem jamais tocar os pés nus na terra úmida de orvalho, sem ter consciência das fases da lua (mesmo as mulheres, tão intimamente ligadas a ela, frequentemente não se dão conta de como variam seus ciclos hormonais).

É nesta artificialidade do nosso modo de viver que vêm as negações mais radicais da natureza humana: os comunistas e nazistas, no século passado, mataram milhões de inocentes em tentativas naturalmente frustras de criar um Novo Homem. E ainda há, entre nossos poderosos, quem não tenha desistido.

Alguns se especializam em devaneios ligados à sexualidade, tentando reduzir o que é essencialmente um sistema reprodutivo a seus incentivos sensíveis acidentais, como se a degustação de chicletes fosse o mesmo que a nutrição. Outros, ainda, negam a agressividade humana e se dedicam à impossível tarefa de “recuperar” sociopatas ou, pior ainda, de pregar que eles seriam as verdadeiras vítimas, por não terem tido colinho, todinho ou carrinho. Para estes, as palmadas devem ser proibidas e as cadeias, fechadas.

Estão todos cegos para o essencial: a natureza humana não é um construto social, mas algo dado que nos cabe viver dentro da ordem de todas as coisas. Só assim se pode ter uma sociedade sã.
 

Por: Carlos Ramalhete - Professor - Jornal Gazeta do Povo.
Fonte: http://aloysiot.blogspot.com.br/2013/11/a-natureza-das-coisas.html

terça-feira, 5 de novembro de 2013

UM DIA FOI A EMPRESA, HOJE É O CANDIDATO.

Um ouvinte pergunta: "Como faço para conseguir referências de empresas em que pretendo trabalhar? Sei que as empresas pedem referências do candidato aos antigos patrões. Mas e nós, trabalhadores? Como podemos saber se uma dada empresa é uma organização séria?"
 
Boa pergunta. Você consegue pela internet. Da mesma maneira que empresas estão usando a internet para escarafunchar a vida dos candidatos a emprego, você também pode encontrar muitas informações sobre as empresas. Comece a busca pelo nome que a empresa é mais conhecida e descubra a razão social dela, que é aquele nome mais comprido, de várias palavras, que é abreviado nas propagandas. Aí junte a razão social a algumas palavras para refinar a busca.

Uma é protesto. E você descobrirá se a empresa tem processos judiciais financeiros, pendentes ou passados. Outra é juiz. E você saberá se alguém fez alguma reclamação trabalhista contra a empresa.

Outra é atendimento. E você descobrirá como a empresa trata clientes e consumidores, o que é uma boa indicação de como ela deve tratar os próprios empregados.

E depois, usando o nome pelo qual a empresa é mais conhecida, você pode fazer uma busca colocando palavras radicais, tanto para o bem, quanto para o mal. Para o bem: excelente, ótimo. E para o mal: terrível, insensível e todos os adjetivos ruins que lhe vierem à cabeça.

Hoje há milhões de pessoas registrando opiniões pessoais na internet. Se você não encontrar nada negativo sobre uma empresa, já é um bom sinal.
 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

TALVEZ

Querido leitor, hoje vamos filosofar no talvez. Palavra tão usada, tão importante em nosso cotidiano e, às vezes, mal interpretada. Hoje vou beber na fonte da Tradição Taoísta Chinesa para tentar discorrer sobre ela, o talvez.

Havia um camponês que morava em uma aldeia muito pobre no interior. Era considerado bem de vida porque possuía um cavalo que usava para arar a terra e como meio de transporte.

Um dia seu cavalo fugiu. Os seus vizinhos juntaram-se a ele e lamentaram o sucedido. “Má sorte!”, disseram. “Talvez”, respondeu o camponês. “Talvez”

Acontece que, no dia seguinte, o cavalo estava de volta, trazendo com ele seis cavalos selvagens. Os vizinhos exclamaram: “Isso é muita sorte!”. O aldeão respondeu: “Talvez”.

Passados alguns dias, quando tentava montar um desses cavalos selvagens, o seu único filho caiu e quebrou uma perna. E mais uma vez os seus vizinhos comentaram a sua má sorte. E ele, também mais uma vez, respondeu-lhes apenas com um talvez.

De fato, alguns dias depois apareceu na aldeia um grupo de oficiais que recrutava jovens para o exército e, por causa da perna quebrada, o filho do camponês foi rejeitado. Quando os vizinhos lhe vieram dizer como afinal tudo tinha acabado por correr de um modo tão afortunado para ele, o velho camponês respondeu-lhes do mesmo modo: “Talvez”.

Esta parábola oriental no mostra que nem tudo o que avaliamos ruim e triste hoje, pode não ser bom amanhã. E que o que desejamos agora como algo que acreditamos ser bom, pode não ser num futuro brevíssimo. Alguns afirmam ser essa a teoria do mal menor.

Tem um amigo que, inclusive, de vez em quando envia mensagens aos mais próximos finalizando dessa forma: “Que tu consigas alcançar tudo que desejas, desde que isso seja bom para ti.” Pode ser que sim, pode ser que não.

Lembrando que isso é assim para mim hoje.


Por: Beto Colombo - 30/10/2013


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

MUITO TEMPO EM CASA DE PAPAI E MAMÃE

Comentário de Max Gehringer para Rádio CBN: "Tenho 28 anos e nunca trabalhei. Demorei a me decidir por uma profissão e acabei trocando três vezes de curso. Como meus pais me bancavam, isso não era um problema. Agora estou concluindo Administração e coloquei como plano de carreira, ingressar na área financeira. Mas pela idade e pela falta de experiência, sou sempre eliminada dos processos de seleção.

Tenho cadastro em todos os sites, pagos e gratuitos, mas só recebo propostas para áreas que não são do meu interesse, como operadora de telemarketing, vendedora de shopping e recepcionista. Ou para funções pouco qualificadas em empresas pequenas. O que devo fazer? Desistir do meu plano de carreira ou existe alguma estratégia para driblar a idade e a falta de experiência, e ser chamada para uma entrevista?"


Sim, existe. Chama-se indicação direta, alguém que a faça furar a fila dos processos seletivos.

Se essa opção falhar, a minha sugestão é que você aceite um dos empregos que você mencionou. Operadoras de telemarketing e vendedoras de shopping ficam menos de um ano nessas funções. A rotatividade é imensa. Mas são boas funções para adquirir experiência inicial. E no caso da vendedora, de conhecer clientes que talvez possam fazer uma indicação direta para um emprego.

O mais importante, no seu caso, é partir de onde for possível. Uma recomendação que lhe dou é não cogitar um concurso público. Se você gastar mais dois anos se preparando e não passar, e a chance de não passar é muito maior do que a de passar, você chegará aos 30 anos sem ter trabalhado. E aí não haverá mais santo que ajude.
 


Max Gehringer, para CBN - 31/10/2013.