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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

PRATO DE FARINHA PARA JECAS


Só duas coisas são certas na vida, "morte e impostos". Estamos nos últimos dias para você declarar seu IR. Imagino que esteja super feliz por ter essa chance de cumprir sua cidadania. Risadas? O Estado brasileiro se arma até os dentes em tecnologias de arrecadação, mas continua a não entregar serviços. Avançamos pouco desde as capitanias hereditárias. O Bolsa Família (coronelismo de esquerda) é um pouquinho melhor do que o prato de farinha que o "coroné" dava no Nordeste no dia da eleição. Mas, se o governo é um leão em TI, um sócio sanguessuga, e nada nos dá em troca, o problema aqui é antes de tudo uma mentalidade miserável tanto do Estado brasileiro quanto duma cultura jeca que diz não gostar de dinheiro e abominar o lucro.

Com a advento do terrorismo de quintal em Boston, muita gente volta a ladainha de que os americanos são caipiras paranoicos. Errado! Os americanos inventaram o país mais rico do mundo, no espaço de tempo mais curto da história, para uma população gigantesca e na maior liberdade política conhecida. E isso tudo porque é rico. Isso mesmo: o que faz os EUA não são os "obaminhas", mas sim a cultura de trabalho e empreendedorismo da América profunda, dos americanos pequenos e invisíveis. Nos EUA, "justiça social" é uma oferta gigantesca de empregos. Aqui nos afogamos num misto de inhaca coronelista de esquerda, travestida de menina virgem de dez anos, e ódio "fake" ao lucro e ao dinheiro.
Lamento que a guerrilha no Brasil, no tempo da ditadura, não tenha saído vitoriosa. Assim, eles teriam revelado o que de fato queriam, fazer do Brasil uma (outra) ditadura de pobres.

Agora estaríamos livres da palhaçada contínua que ainda reina entre nós: a esquerda se dizendo vítima e fingindo que é democrática. Teríamos falido, como todo país comunista faliu, eles teriam matado milhares de pessoas, como todo país comunista matou, e agora, como nos países do Leste Europeu, ninguém ficaria brincando de ser de esquerda. E a direita? No Brasil não há a direita que interessa, a liberal de mercado, que defende que as pessoas devem ser responsáveis pelo que fazem. Aquela dos "americanos pequenos e invisíveis". Engana-se quem acredita que defender a sociedade de mercado seja defender grandes grupos capitalistas. O "grande capital" nada tem a ver com a ideia de sociedade de mercado de Adam Smith, pois este "grande capital" convive muito bem com regimes autoritários e, pasme você, adora países sem sociedade de mercado, basta ver como qualquer grande banco vive bem com nossa inhaca coronelista de esquerda. O "grande capital" odeia competição e meritocracia.


Não, o que falta entre nós é uma visão de mundo que não seja pautada pelo culto da incapacidade das pessoas cuidarem de si mesmas. A sociedade de mercado é uma sociedade de pequenos e médios empresários e profissionais liberais que lutam corajosamente para dar emprego e pagar impostos imorais. O governo brasileiro persegue esta classe de empresários e profissionais liberais a pauladas, cobrindo-os de obrigações tributárias impagáveis para que sejam obrigados a corromper o próprio governo. Um fascismo fiscal. Por exemplo: por que alguém deve pagar 40% de multa do FGTS quando demite um funcionário? Qual a infração que mereceria esta multa de 40%? Eu digo qual: para a mentalidade jeca brasileira, dar emprego é crime, empregador é bandido que deve ser punido. Eis um exemplo de pauladas.

No Brasil só bobo e quem não tem jeito dá emprego. Uma saída é exigir pessoa jurídica de todo mundo e enterrar todo mundo em centenas de tributos. Eis o fascismo fiscal. Quero ver os bonzinhos, bonitinhos e melosos continuarem bonzinhos, bonitinhos e melosos quando tiverem que pagar a multa de 40% do FGTS (depois de 10 anos) quando quiserem demitir uma empregada que maltrata seu filho. Pequenos e médios empresários e profissionais liberais é que fundam a riqueza de um país e enquanto os caçarmos, inclusive considerando-os bandidos, o Brasil não sairá da miséria. Adam Smith, e não Marx, deveria estar em nossas cartilhas.


Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 29/04/2013

MARCA DE "DIPLOMA" INFLUENCIA NA SELEÇÃO?

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 26/04/2013, sobre o que um jovem que estuda em uma faculdade sem nome pode fazer para melhorar suas chances em entrevistas para estágios e empregos.
Escreve um jovem ouvinte preocupado: "Estou procurando estágio, mas me deparei com um problema. Eu estudo em uma faculdade sem muito nome. Mas o pior mesmo é que meus professores não demonstram muito interesse nas aulas. Parece que eles ensinam o mínimo que podem, só para fazer jús ao salário no fim do mês. Por tudo isso, eu fico gelado quando um recrutador começa a me fazer perguntas sobre minhas atividades escolares. E no fim da entrevista, eu sempre acabo perdendo a chance de ser contratado. Existe alguma boa resposta que eu possa dar?"

Sem dúvida. Você poderia responder que a sua faculdade pode não ser a mais renomada do mercado, mas que você supera essa deficiência com outras atividades. Por exemplo, você é membro da empresa júnior da faculdade, o que lhe permite apresentar projetos para empresas e começar a formar um bom círculo de relacionamentos. Se a sua faculdade não tem uma empresa júnior, você mesmo pode começar uma e associá-la à entidade nacional.

Você também pode dizer que dá aulas gratuitas para crianças carentes, em uma ONG. E pode dizer que se os professores não fazem questão de que os trabalhos dados em classe sejam bem feitos, nem por isso você se limita aos comandos de copiar e colar num site da internet. Você pesquisa porque está fazendo o trabalho para o seu aprendizado e não para impressionar professores. Além disso, você pode dizer que nunca perdeu uma aula, porque sabe que o índice de absenteísmo zero é muito importante para empresas.

Em resumo, o fato de uma escola não ser a melhor do mercado em ensino não significa que seus formandos não possam ser os melhores profissionais do mercado de trabalho.

Max Gehringer, para CBN - 26/04/2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ALGUMAS RAZÕES PARA SE DEPRIMIR

Diante da questão de Hamlet, "ser ou não ser, eis a questão", a resposta talvez seja "não ser". Deprimir-se ou resistir? Dias assim, melhor dormir. Mas, como a vida continua, insistimos. Um tratado de "Crítica da Razão Deprimida" deveria começar pela descrença na democracia. Como crer na democracia quando sabemos que a popularidade de nossa presidente é alta? Se o pastor Feliciano não tem o perfil para o cargo, tampouco ela o tem. Lembramos então do que dizia o líder inglês durante a Segunda Guerra, Winston Churchill: "Quando falo com os eleitores, duvido da democracia". Por quê? Como "o povo" pode continuar crendo na economia quando ela já dá sinais de queda há algum tempo? Claro, quem entre aqueles que vivem graças a bolsas famílias pode entender que uma mentalidade entre o varguismo e o comunismo (como a da nossa presidente e a do restante do PT, que continua na sua marcha para transformar o país num país comunista) não pode fazer nada pela economia do país? E, mais, que, se a economia vai para o saco, as bolsas também vão? Claro, o problema é que na democracia dependemos da maioria, e esta é quase sempre estúpida. Sei que muitos não concordam com essa ideia e, mais do que isso, entendem que há algo de "sagrado" na sabedoria do povo.
 
Mas, sei também que quem afirma isso, conhecendo um pouco de história, o faz por má-fé, ou simplesmente, por mais má-fé ainda. Temo que esteja sendo redundante, mas a redundância é uma vantagem evolutiva em meio às obviedades contemporâneas. Outra coisa que me faz suspeitar de que os deprimidos têm razão me ocorre quando ouvimos gente supostamente inteligente falar coisas como "a comunidade internacional decidiu X". O que vem a ser isso mesmo? Onde ela se encontra? Na ONU? Esta estatal internacional mais corrupta do que a república da banana? A ONU é uma mistura de circo com mensalão. Um cabide de emprego para países de Terceiro Mundo. Como crer em quem crê numa "comunidade internacional"? A "comunidade internacional" só funciona quando tem interesses comerciais em jogo. E olhe lá.Qualquer decisão da "comunidade internacional" no âmbito moral (como, por exemplo, a partir de hoje estão proibidas a fome, a tortura, a violência contra os mais fracos) é tão séria quanto a declaração de que Papai Noel deve existir porque, do contrário, estamos indo contra o direito à fantasia infantil. Imagino que os neandertais que são contrários à publicidade infantil concordariam com uma ideia boba como essa.
 
Mas, é claro, toda vez que alguém diz acreditar na "comunidade internacional" não o faz por ingenuidade, mas, sim, porque este alguém ganha algo com isso, mesmo que seja apenas fama de bonzinho. E a decisão britânica de criar um órgão do governo para censurar a mídia? Claro, dirão os mesmos que acreditam na "comunidade internacional" que a mídia deve ser "impedida" de circular ideias preconceituosas e ideologicamente perversas. O caso britânico -resultado da baixaria de alguns "funcionários excessivos" determinados de um jornal específico- não justifica a criação deste órgão fascista para controlar a mídia. Deduzir a necessidade de controle da mídia do fato de alguns jornalistas terem colocado escutas na vida de cidadãos é como decidir colocar câmeras em todas as salas de aula porque existe risco de abusos por parte de professores e alunos.
 
O grande erro histórico foi não perceber que a vocação fascista não era um traço só de Mussolini e Hitler, mas sim de todas as propostas de que a política e a educação sejam irmãs gêmeas, ou, dito de outra forma, de que a "política deva fazer moral". Esta ideia é típica da tradição política contemporânea baseada na premissa de que a política deve "construir um homem melhor". Neste sentido, a esquerda é absolutamente fascista e, como ela venceu na cultura, na educação e nas ciências humanas como um todo, não há esperanças. É impressionante como "os bonzinhos" de uns dias para cá foram tomados por um amor meloso pelas suas empregadas domésticas. Seria isso uma forma de atestar pureza racial (desculpe, moral) para a burocracia fascista de nossos dias?
 
 
Por Luiz Felipe Pondé - 08.04.2013 - Folha SP

terça-feira, 23 de abril de 2013

FOCO

Durante a vida cada um de nós presta atenção em algumas coisas, assim como deixa de lado outras tantas. Ao prestar atenção em alguma coisa específica diz-se em Filosofia Clínica que a pessoa está indo Em Direção ao Termo Singular, ou seja, de tudo o que ela vive está prestando atenção em algo específico. Outro movimento que acontece é o de abertura do leque existencial, que acontece quando a pessoa abre o foco e vai Em Direção aos Termos Universais. Esse movimento leva a pessoa de um ponto específico em direção ao todo. Tanto o foco específico quando o movimento em direção aos universais são comuns no dia-a-dia, porém, mal utilizados por muitas pessoas.Uma das muitas formas de se utilizar Em Direção ao Termo Singular é quando se tem problemas. Há pessoas que quando tem problemas concentram toda a sua atenção no problema criando um hiperfoco, ou seja, tudo desaparece e fica só o que está incomodando.

Por exemplo: você sai pela manhã e lembra que abril é o mês do imposto de renda. Você vai ao contador, ele lhe apresenta uma soma razoável a ser paga até o final do mês. A partir desse momento o único assunto que ronda sua cabeça é o imposto de renda, você não come direito, não dorme direito, não se relaciona direito, etc. Já o uso de Em Direção aos Termos Universais pode acontecer num momento de discussão com a esposa. O casamento já não anda aquelas coisas e em algum ponto do mês a esposa diz que não dá mais. Digamos que você associe isso ao fato de que seu assunto é exclusivamente imposto de renda. Você diz a ela que vai parar falar sobre o assunto, que fará cara de paisagem e falará sobre outras coisas. Mas ela começa a dizer que essa é apenas a gota d’água, que ela não se sente mais amada, que não tem sua atenção, que a sexualidade ficou de lado, que não tem mais conversas de qualidade. Enquanto você vai Em Direção ao Termo Singular ela caminha Em Direção ao Termo Universal. Alguns de nossos grandes mestres dizem que onde estiver nosso foco aí estará nossa grande felicidade assim como o nosso inferno. Como é que é isso? Para onde está voltada sua atenção? Caso você tenha uma atenção focal no seu casamento dali podem vir todas as alegrias, assim como podem vir também todas as suas tristezas.
 
A fixação do foco pode lhe alienar, como uma pessoa que se tranca dentro de casa e sai depois de vinte anos. Durante este tempo o foco foi só a casa, dali vinham as alegrias, mas também as tristezas. Pessoas que caminham em direção aos universais têm como característica observar o todo, mesmo que vejam as partes o todo é que tem relevância. A questão é que algumas pessoas têm uma tendência a ver as coisas ruins da vida, sendo que para elas o que há de bom são pequenos pontos, enquanto a vida é um mar de lágrimas. Outras aprenderam a ver as coisas boas da vida e os problemas que elas encontram na caminhada são pequenos pontos escuros na grande foto. Um caminho interessante a ser feito por muitas pessoas é aprender a utilizar foco para o que precisa de foco e universais para o que precisa ser entendido no todo. Seria assim: supomos que você saia de casa, vá até o contador e lá diante do contador toda sua atenção se volte ao Imposto de Renda, mas saindo de lá sua atenção volte novamente ao todo, ou seja, ao carro que está no estacionamento, às compras que sua mulher pediu do supermercado, ao amigo que pediu uma visita. Não recomendo usar uma lupa para olhar uma paisagem, mas é uma boa pedida para ver uma formiga mais de perto.
 
 
Por: Rosemiro A. Sefstrom – Criciúma/SC – 17/04/2013
Fonte:
http://www.filosofiaclinicasc.com.br/artigo/foco-169





quinta-feira, 18 de abril de 2013

MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO DOS ANJOS

O otimismo está na moda com o novo livro do psicólogo cognitivista Steven Pinker, "Os Anjos Bons de Nossa Natureza", da Cia. das Letras. Sou um admirador do seu já clássico "Tábula Rasa" (o título do livro remete a conhecida tese empirista segundo a qual somos inteiramente frutos do meio). No "Tábula Rasa", gosto em especial da parte denominada "Vespeiros", dedicada às polêmicas contra as ciências humanas e sua defesa ideológica da "tábula rasa" a ser preenchida pelas modas ideológicas do momento, do tipo meninos e meninas não existem a não ser como construção social. Risadas?

Considero o evolucionismo e a ciência cognitiva ganhos enormes para a compreensão do comportamento humano. Mas, me pergunto se ele, com este novo livro, não está fazendo mais um panfleto de marketing moral do que um livro "científico". Não aceito plenamente suas conclusões a partir daquilo que ele oferece como uma "ciência cognitiva do otimismo". E, infelizmente, suspeito que Pinker tenha sucumbido a pressão para ser legal, pressão esta que todo mundo que atua como agente do pensamento público sente hoje em dia.

Essa é a praga do politicamente correto: tão invisível como um pó que cai sobre nosso cérebro e não percebemos até nos tornarmos zumbis intelectuais com medo de pensar o impensável. Temo que assumir que melhoramos porque os americanos passaram de Bush a Obama, e porque existe a ONU e os shopping centers, é mais ideologia (o que Pinker normalmente critica) do que "ciência". Mesmo a "estatística do bem" só convence quem crê em estatística aplicada a seres humanos. Dá até a impressão de que o autor se convenceu que o mundo é mesmo igual às regiões mais ricas dos Estados Unidos, onde ele vive.

O conforto e a segurança podem ser mesmo um grande viés a entortar nossas conclusões. Pinker confundiu a felicidade de um circo com ar-condicionado, lanchonetes e ONGs com evolução da paz. A tese de Pinker em seu novo livro é que a humanidade está, desde o século 19, ficando menos violenta fisicamente. Não é de todo absurdo dizer isso se levarmos em conta que grande parte da humanidade hoje em dia se ocupa com ganhar dinheiro, comprar casas e carros, comer uma alimentação saudável e combater as rugas, afora se conectar às redes sociais e falar besteiras quase o tempo todo.

Trata-se da paz como resultado da banalidade do pequeno sucesso e das horas vazias preenchidas com imposto de renda, divórcios e faturas do cartão de crédito. Mas, suspeito que esse sucesso da paz se dá antes de tudo porque, além dessa ocupação com um cotidiano que vai da TV a cabo às angústias com a previdência privada, as instituições da democracia representativa e da sociedade de livre mercado (que os comunistas gostam de chamar de capitalismo) representam de fato um ganho, contendo nossa vocação para violência, que agora adormece, cândida, babando nos bares, restaurantes, free shops e ONGs para pandas.


Estamos em paz porque compramos muito, comemos muito e somos muito narcisistas. Estamos muito próximos dos personagens felizes e idiotas do "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley. O otimismo "científico" de Pinker me lembra outro otimista, Francis Fukuyama, e seu "fim da história", porque segundo este, não há possibilidade de retrocedermos para uma sociedade sem democracia liberal. Será? Esses dois autores, Pinker e Fukuyama, parecem não levar em conta que estamos votando em candidatos duvidosos, comprando computadores, pílulas e Viagra há pouquíssimo tempo e que assumir "200 anos de história da paz do consumo" contra 1 milhão de anos (grosso modo) de sofrimentos intermináveis é como julgar a vida de um homem de mil anos pelos dois últimos segundos passados. Por último, retornaria ao clássico freudiano "Mal-Estar na Civilização" (recusado pela moda cognitivista). Mesmo Norbert Elias, referência essencial para um dos "bons anjos" de Pinker, sabia bem que o processo civilizador cobra um preço alto pela repressão da "besta em nós". Resta saber qual seria o "retorno do reprimido" deste mundo de bons anjinhos.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

EVITE FRASES PRONTAS EM ENTREVISTAS

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 15/04/2013, com o conselho de não usar frases feitas, de efeito e vazias, em entrevistas de emprego.
 
Uma ouvinte escreve: "Tenho 22 anos. Na semana passada, numa entrevista que fiz, eu estava indo muito bem até que o entrevistador me perguntou: 'Em termos de objetivos profissionais, onde você pretende chegar?' E eu, cheia de confiança, respondi: 'O céu é o limite.' Para minha surpresa, o entrevistador me pediu para explicar o que eu queria dizer. A reação dele me deixou sem jeito e sem palavras, porque essa é uma expressão muito conhecida e que não precisa de explicações. Daí em diante eu perdi a segurança e acabei não sendo contratada. Eu errei a resposta ou o entrevistador é que é meio orelhudo?"

Vamos lá. Existem dois céus. Um é o céu metafísico, para o qual vão as almas que se comportaram adequadamente na Terra, segundo os preceitos de cada religião. E o outro é o céu físico, formado pelas diversas camadas que compõem o universo. No primeiro caso, o seu objetivo seria a felicidade eterna pelos séculos dos séculos. E no segundo caso, o seu objetivo seria ser astronauta e colonizar outros planetas.

Por isso, quando o entrevistador lhe pediu para explicar melhor, ele apenas queria que você falasse sobre suas pretensões mais imediatas. Uma resposta boa seria: "Quero dar um passo de cada vez e ir aproveitando as oportunidades que a empresa me der."

Em entrevistas, devem ser sempre evitadas frases que parecem bonitas, mas que no fundo são vazias. Como por exemplo: "Eu sou muito motivada." Você acha que algum candidato diria que não é motivado? Ou que não tem espírito de liderança? Portanto, o mais indicado é evitar as frases feitas. Querer chegar aos céus é, sem dúvida, um belo objetivo. Mas, em entrevistas, o melhor é manter os pés no chão.


Max Gehringer, para CBN - 15/04/2013.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

VISÃO DE FORMIGA

 
Em minha história de vida, se há algo que fiz e tenho muito orgulho é ter sido seminarista. No seminário, permaneci ao longo de oito anos, sendo que estudei o ensino regular, fundamental, médio e parte da faculdade, até que minhas convicções apontaram a hora de deixar esse caminho e seguir outro. Ao longo da caminhada percebi que avaliar algo ou alguém de longe é muito perigoso, principalmente quando esta avaliação envolve convicções, quaisquer que sejam. Quando se avalia algo a distância, antes de mais nada, corre-se o grave risco de falar sobre o que não se sabe, e, pior ainda, se mostrar arrogante ao falar do que não entende. É bem possível que alguns digam que é necessário formar opinião, ter convicções, por certo pode ser assim para muitos.

Trago estas colocações para falar do recém eleito Papa, Sumo Pontífice da Igreja Católica, Francisco I que é o alvo de todo tipo de comentário. A primeira pergunta a se fazer em torno destes comentários é: “Quem realmente conhece a história de vida de Francisco I?”, uma questão que para muitos é quase irrelevante, pois o que interessa mesmo é algo ter para se comentar ou se falar. A distância que há entre as pessoas que comentam e o comentado é tão grande que pode ser comparada a visão de uma formiga em relação a um elefante. O que sabe uma formiga das coisas de um elefante? Provavelmente pouco, quase nada, mas pode se atrever de seu mundo de formiga criticar as grandes patas do elefante. Pode ainda falar de que o elefante come muito, é muito pesado, malvado com as formigas porque não olha por onde anda e uma só pata pode matar centenas delas.


Aos que realmente fazem parte da Igreja e conhecem o novo Sumo Pontífice, provavelmente veem o retorno da Instituição ao seu verdadeiro propósito: servir. Não há aqui defesa em prol do Papa, mas uma pequena reflexão dos que conhecem a real motivação da escolha do novo comandante da Igreja: o retorno ao pobre, ao trabalho pastoral, à evangelização, à distância do envolvimento político, das intrigas sociais, da venda de indulgências. Se e somente se Francisco I levar em conta seus votos de pobreza, caridade e obediência levará novamente a Igreja para junto do povo, sua real vocação.

A visão de formiguinha olha para um objeto com distância, sem estrutura, sem conhecimento. Quando era pequeno olhava minha mãe e meu pai e muitas vezes me perguntava por que era proibido ficar até tarde na rua, andar com certas companhias, porque era obrigado a estudar. Hoje estou na posição que eles estavam quando eu era formiguinha e entendo que suas recomendações tinham sentido, ao menos para eles. Mas, para compreender isso, foi necessário que eu deixasse de pensar como formiguinha para que realmente entendesse o que eles queriam passar.

Hoje, em meio a empresários, investidores, gestores, muitos dos quais são tidos como pessoas corruptas, que tem pacto com o demônio, que roubam os mais pobres, é possível dizer que outra visão de formiguinha amadurece. Não é necessário estar no meio, vivenciar as mesmas experiências, mas, no mínimo conhecer o assunto, as pessoas, as coisas, para formar uma opinião mais próxima daquilo que realmente é. Aos que não conhecem o assunto de que falam e emitem opinião sobre, estes não passam de formiguinhas falando de um elefante.


Por Rosemiro A. Sefstrom - Criciúma/SC - 20/03/2



terça-feira, 9 de abril de 2013

VOCÊ TEM CABEÇA ABERTA?

Você tem cabeça aberta? Acusar alguém de ter cabeça fechada hoje em dia é uma ofensa pior do que xingar a mãe. Hoje todos querem ter cabeça aberta. Um tema top para cabeças abertas é preconceito x práticas sexuais, e um lugar certo para deixar claro que você tem cabeça aberta é jantares inteligentes. Se você quer fazer sucesso num jantar desses, chame todo mundo que discorda de você de "ridícula". Nesses jantares, as pessoas têm as opiniões certas sobre tudo; por exemplo, ninguém tem preconceito contra nada. Acho muito fofo gente que não tem nenhum preconceito contra nada. No tema "práticas sexuais", o que percebemos, se formos um pouquinho além do senso comum, é que o "normal x patológico" ou "moral x imoral" é bastante relativo no tempo e no espaço. Isso significa que o que se acha imoral hoje amanhã pode não ser, e vice-versa. O mesmo para o que se acha patológico.
 
Quem busca um critério absoluto, sem variação histórica ou geográfica (a tal variação no tempo e no espaço de que falei acima), hoje em dia, se vê em maus lençóis. Além, claro, de dar atestado de ter preconceitos numa época em que ter preconceitos é pior do que matar a mãe. Aliás, se não disse ainda, digo: acho fofo gente que não tem preconceito contra nada. Um modo de se posicionar acerca dessa fronteira entre sexo normal x patológico ou moral x imoral é defender a ideia de que entre dois adultos tudo é permitido, se a prática for fruto de livre escolha (eis uma versão para mortais da tal autonomia kantiana). Esse argumento até é válido, já que não sabemos mais nada sobre coisa nenhuma em moral (só mentirosos dizem que têm "princípios éticos"). Mas ele é problemático, já na definição de "adulto", porque ela também é relativa no tempo e no espaço. Um cara de 40 ficar com uma mina de 14 nem sempre foi visto como crime contra a infância.
 
Outra coisa problemática é a própria ideia de "livre escolha". Por exemplo, se você gosta de apanhar, talvez só goste mesmo quando seu parceiro ou parceira vai além do que você "permite", senão você não goza de verdade. Mas devo confessar que há algo de pueril em achar que "livre escolha" resolva o problema. Acreditar na ideia de "autonomia kantiana" (a tal da "livre escolha"), às vezes, também, é superfofo. Vamos, porém, deixar de barato esses pequeníssimos detalhes e vamos a algo mais "significativo". Faço uma proposta para seu próximo jantar inteligente. Claro, se você for um pobre engenheiro, nem pense em querer ir, a menos que sua mulher seja psicóloga --aí os donos da casa inteligente podem aceitá-lo. Se você for um cara e sua "mulher psi" for um cara também, aí a entrada é garantida.
 
Vamos testar as cabecinhas abertas? Atenção, respire fundo: você já viu o vídeo "2 girls 1 cup"? Mas, antes de descrevê-lo (não em detalhes, porque seria demais para uma segunda-feira), vou dizer uma coisa. Acho que, se você é o tipo de pessoa que quer provar que tem cabeça aberta, você deve discutir apenas o que lhe parece absurdo (ou "nojento", na linguagem de gente que tem preconceito). Mas não é isso o que acontece normalmente. A moçadinha que tem cabeça aberta só gosta de discutir coisa que não põe em risco sua imagem de gente bacana. Falar mal de machista, racista, sexista, católico e evangélico é coisa de iniciante no ramo de discussões de verdade.
 
E o vídeo? Neste, duas mulheres começam com sexo lésbico normal e acabam fazendo sexo a três: elas duas + as fezes de uma delas (se é apenas efeito especial, pouco importa). Isso é chamado no mundo careta de "coprofilia". Quem gosta de xixi é urofílico. Então: gente que gosta disso é doente, imoral, ou apenas gente de cabeça aberta explorando seus limites do gozo? Lembre: o que hoje é doença ou imoralidade amanhã pode não ser. Na verdade, imagino que em breve esses caras terão suas ONGs e defenderão também "safe sex". Como fazê-lo? Ensinando nas escolas a identificar fezes infectadas pela aparência e cheiro? O que a gente fofa diria disso? Ainda sem preconceito? Perdeu o apetite? As ciências sexuais têm muito o que aprender.
 
Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 25/03/2013

sexta-feira, 5 de abril de 2013

RH PODE "BARRAR" CANDIDATO "NOME SUJO"?

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 02/04/2012, sobre a decisão do Tribunal Superior do Trabalho que permite que empresas possam deixar de contratar um funcionário apenas porque a pessoa está com o nome sujo:

Uma ouvinte faz uma pergunta que já respondi várias vezes, mas agora, infelizmente, a resposta mudou. A pergunta é: "Uma empresa pode deixar de contratar alguém que está com o nome sujo?"

Há um mês, julgando um caso iniciado faz dez anos, o Tribunal Superior do Trabalho decidiu que sim. Essa não era a interpretação que vinha sendo dada e não me recordo de uma só empresa que tenha admitido abertamente o uso dessas informações como filtro de recrutamento.

Existe, é claro, uma atenuante. A sentença do TST foi emitida num processo em que a empresa recusou um candidato a uma função que demandava manuseio de dinheiro. Um eventual futuro processo sem esse detalhe financeiro, ou seja, uma empresa deixar de contratar um candidato apenas porque seu nome consta na lista do SPC ou Serasa, pode vir a ter uma sentença diferente.

De qualquer maneira, a decisão do TST desagradou a sindicatos, a advogados não ligados a empresas e a trabalhadores, desempregados ou não, cujos nomes estão nas famosas listas. Isso porque a sentença coloca todos os devedores no mesmo barco, deixando a decisão para o bom-senso da empresa contratante. Só que é muito remota, se não for nula, a possibilidade da empresa avaliar o montante da dívida e depois se interessar a saber os motivos que levaram à inadimplência.

Como cada caso é um caso, e como a sentença do TST permite, por enquanto, que todos os casos sejam tratados igualmente, é bastante provável que haja recurso ao Supremo Tribunal Federal, que decidirá, ou não, se é constitucional um cidadão ser impedido de conseguir emprego apenas em razão de uma dívida não paga.


Max Gehringer, para CBN - 02/04/2012.
Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2012/04/empresa-pode-deixar-de-contratar-quem.html

 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

SEIS PASSOS PARA FELICIDADE

Recentemente soube que alguns países querem endurecer ainda mais as leis antifumo: não pode fumar no carro, para fumar tem que ter uma carteirinha, quem nasceu a partir do ano 2000 não pode comprar tabaco. Esperamos, com a boca escancarada e cheia de dentes, a morte chegar. Mas, bem saudáveis. Hoje em dia, Raul Seixas vomitaria na plateia. A "qualidade de vida" é uma das novas formas de puritanismo, sendo o feminismo uma outra (o feminismo é a nova repressão da sexualidade). A felicidade e o bem-estar são as chaves da vida contemporânea. Vale tudo para ser feliz. Qualquer discussão moral é pura afetação ética. Uma época dominada pela felicidade é uma época boba. Mas não estou sozinho nesta sensação: Aldous Huxley, escritor inglês, pensava a mesma coisa.
 
Quando olhamos para a história da ética, vemos que o utilitarismo inglês é o modo dominante da vida contemporânea. Para mim, pessoa um tanto desconfiada de quem passa a vida querendo ser feliz, isso tudo parece "limpinho" como um hospital. Jeremy Bentham (1748-1832), pai do utilitarismo, chegou mesmo a pensar num cálculo utilitário para otimizar a felicidade. O principio utilitário afirma que o homem foge da dor e busca o prazer (o bem-estar). Logo, devemos fazer uma sociedade que vise produzir em larga escala a felicidade, o prazer e o bem-estar. E chegamos ao nosso mundo de gente que sonha em ficar com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar, mas com saúde. A vida e a sociedade dominadas pela busca do bem-estar parecem tornar o homem menos homem.
 
O cálculo utilitário tem seis passos: 1. Intensidade: o prazer dever ser o mais intenso possível. 2. Duração: o prazer deve durar o máximo de tempo possível. 3. Certeza: cuidado para não produzir um prazer que não é o que você deseja com aquele ato. 4. "Remoticidade" (remoteness): o prazer deve causar efeito imediato ou o mais rápido possível. 5. Fecundidade: o prazer A deve gerar o prazer A1, o A2 e assim por diante. 6. Pureza: cuidado para não gerar desprazer ao invés de prazer. Será que você já não põe isso mais ou menos em prática do seu dia a dia?
 
Mas, dirão alguns, Bentham era um controlador, porque ele sempre pensava em termos de um centro (expert) controlando a periferia (as pessoas comuns). Bentham ficará conhecido como o utilitarista antidemocrático, sendo John Stuart Mill (1806-1873) o utilitarista democrático. De acordo com este, maior representante da segunda geração de utilitaristas, a sociedade (os indivíduos) deve livremente buscar esse prazer. Mas o que percebemos é que, ainda que Mill falasse muito em liberdade e contra o abuso de poder (cara simpático para a moçada que gosta de falar coisa bonitinha, tipo Obama), não adianta acusar o "centro do poder" de controlador, porque são as próprias pessoas que querem os seis passos para a felicidade de Bentham. Isso cria o efeito de esmagamento típico do puritanismo de massa em que vivemos: saúde e felicidade. Fizéssemos um plebiscito, quase todo mundo escolheria uma gaiola feliz.
 
"Comunidade, identidade, estabilidade." O bem é sempre para todos, a identidade é o que nos une, a vida deve ser estável. Slogan que venderia bem no mundo para o qual seguimos a passos largos com esse utilitarismo social em que vivemos, com um controle cada vez maior dos gestos, do pensamento e dos hábitos em nome da "comunidade, identidade, estabilidade". Esse era o slogan do mundo perfeito que Huxley criticou em seu "Admirável Mundo Novo" (1932), mas podia ser o de qualquer um dos proponentes bonitinhos do controle político da vida em nome do bem. Louis Pojman, professor de filosofia da Academia Militar de West Point (EUA), chama isso de "tragédia da liberdade".
 
Toda liberdade pressupõe riscos, e toda sociedade pautada pela felicidade social não suporta a liberdade. Estamos caminhando a passos largos para uma dessas. Toda a cultura intelectual está infestada de amor à felicidade social e de ódio ao indivíduo. O pesadelo totalitário não passou. Agora ele vem sob o disfarce da opinião pública e da vontade coletiva.
 
Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 10/12/2012

terça-feira, 2 de abril de 2013

ENCANTADOR DE JARDINS

Queridos leitores, paz! Era uma vez um senhor muito sonhador. Sonhou com sua casa com grama, árvores frutíferas, vários jardins. Tanto sonhou que, um dia, conseguiu realizar o seu intento.

A grama era um tapete sob seus pés, as árvores frutíferas no pomar exalavam cheiros de frutas e de flores. Nos jardins, ele cultivava diversos tipos de flores das mais variadas cores. Flores rasteiras e pequenas, flores grandes e com arbusto. Flores brancas, vermelhas, rosas, amarelas, lilás e roxas. Tudo aquilo gerou um fato novo talvez não previsto em seus sonhos. Vieram alguns pássaros, dezenas, e aos poucos eram centenas, e há quem diga que apareceram milhares deles. Diante de tamanha surpresa, ele começou a apedrejar os pequenos animaizinhos. Em alguns, as pedras foram longe, em outros, as pedras passaram de raspão, em outros, elas acertaram em cheio, comprometendo o voo de retorno ao ninho, onde alimentariam seus filhotes.

Todas as pessoas que observavam aquela situação sem entender o porquê aquele homem fazia aquilo, também observaram que grande parte dos pássaros não retornou aquele lugar, sequer passavam próximo. Mas tinha alguns que corriam o risco de serem apedrejados, mesmo assim vinham ao pomar e ao jardim do homem sonhador.

A metáfora desta parábola é que algumas pessoas passam boa parte do tempo atraindo pessoas para próximo de si, das diversas formas, e quando conseguem, algumas simplesmente as repele, as repulsa, as afasta para longe com atos surpreendentes.

E você, tem plantado árvores frutíferas, tem feito jardim, tem atraído borboletas e beija-flores? E o que tem feito com aqueles que se aproximam?
Lembrando que isso é assim para mim hoje.
 
 
Por Beto Colombo
Artigo veiculado na Rádio Som Maior no dia 01/04/2013.
Fonte: http://www.betocolombo.com.br/artigos/ver/encantador-de-jardins-431